quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Uma Análise Comportamental da Carência

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Desculpem mais uma vez pelo longo tempo sem realizar nenhuma postagem. Hoje vamos falar um pouco sobre algo que todo mundo já sentiu: carência. Metaforicamente e comportamentalmente a carência é semelhante à fome. Quando estamos com fome qualquer comida parece deliciosa. Quando estamos carentes qualquer relacionamento parece formidável. Mas o que está por trás de tudo isso?

Fome faz com que os alimentos adquiram sabores não notados anteriormente ou nos faz até mesmo comer o que normalmente nós não comemos. Não é muito diferente com os relacionamentos. Carência transforma qualquer relacionamento numa fonte "inesgotável" de realização emocional, até mesmo os relacionamentos com potencial para se tornarem tóxicos.

Existe uma operação comportamental chamada privação que ajuda a entender porque isso acontece. Na privação a impossibilidade de contato com determinado reforço torna mais poderoso o seu efeito reforçador. A carência é marcada pela restrição de acesso a reforçadores condicionados importantes, como, por exemplo, atenção e afeto. Também pode ser marcada pela restrição a reforços de origem sexual, que são exemplos de estímulos reforçadores incondicionados (primários).

Não por acaso a susceptibilidade de entrar em qualquer relacionamento que assinale com a possibilidade de reforçamento. Deste modo, a privação, leia-se carência, eleva a probabilidade  de comportamentos que aumentem as chances de produzirem os reforços que faltam. Daí podem surgir alguns problemas. Um deles é não avaliar com que frequência os reforçadores serão encontrados no novo relacionamento.

Reforços não ocorrem de modo contínuo. Isso é válido principalmente para aqueles que dependem do comportamento de outrem. A depender do relacionamento o esquema de reforçamento pode exigir muitos esforços para que sejam apresentados os estímulos reforçadores. É algo semelhante ao que ocorre nos jogos de azar: o jogador continua jogando mesmo que a probabilidade de vencer seja muito pequena. É neste momento que o relacionamento pode se transformar numa relação tóxica. Muitas fichas são apostadas na relação, como nas máquinas de caça-níqueis, e o retorno obtido pode não compensar o esforço empreendido para obtê-lo.

Cuidado, portanto, com a carência! Avalie a relação por aquilo que ela pode te proporcionar e pelo esforço que vai empreender para conseguir se sentir realizado(a). E pense em algo importante: os relacionamentos afetivos não são as suas únicas fontes de reforçamento. Existem outras. Procure explorá-las para não se tornar refém da carência.


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