segunda-feira, 22 de abril de 2013

Laranja Mecânica: uma análise comportamental

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

O filme Laranja Mecânica conta a história de Alex, um jovem inglês que é líder de um grupo de deliquentes que cometem todos os tipos de horrores durante as madrugadas: espancamentos, brigas com grupos rivais, assaltos, estupros e até mesmo assassinato. Numa das investidas realizada pelo grupo durante uma madrugada, os companheiros de Alex armam contra ele, pois estavam cansados de sua liderança autoritária. Como o grupo só conhece a agressão, usam-na para dar uma lição em Alex.

Num assalto realizado em um hotel fazenda, Alex acaba assassinando a proprietária do hotel. Os companheiros de gangue atinjem-no com algumas garrafas de leite na cabeça, deixando-o inconsciente e transformando-o em um alvo fácil para a polícia que já havia sido acionada. Por ironia do destino a violência de Alex acaba se voltando contra ele, pois os liderados se rebelam e o destituem do poder usando os mesmos métodos coercitivos. Enfim, coerção gera coerção, e o filme Laranja Mecânica é muito claro neste sentido, pois elucida de maneira bastante óbvia os efeitos colaterais gerados pela utilização de controle coercitivo.

Tais efeitos se fazem evidente no tratamento que Alex é submetido depois que é levado para a prisão. Tendo recebido uma pena de 14 anos de reclusão em um instituto prisional que usa a coerção para manter sob controle os detentos, Alex enxerga num tratamento revolucionário a possibilidade de encurtar o cumprimento de sua pena. Trata-se de um tratamento que ilustra com bastante clareza o paradigma do condicionamento respondente, ao mesmo tempo que cria a oportunidade para que possamos discutir a eficácia da punição como meio para a modificação de comportamentos.

Por possuir um perfil bastante agressivo Alex é escolhido para ser submetido ao tratamento, sendo, então, transferido para uma clínica em que é colocado sob os cuidados de uma equipe médica. O tratamento consiste em assistir filmes com cenas explícitas de violência enquanto um medicamento que provoca uma terrível sensação de náusea é administrado. Veja o esquema abaixo:

Veja a semelhança com o experimento realizado por Pavlov no estudo do condicionamento respondente:
No experimento de Pavlov o estímulo incondicionado, ou seja, o estímulo que provoca a resposta reflexa de salivação, uma resposta que ocorre sem a necessidade de aprendizagem, é a comida. No experimento realizado com Alex o medicamento cumpre a função de estímulo incondicionado. Após a associação temporal entre o alimento e a campainha no arranjo experimental construído por Pavlov, o som passou a adquirir a função de estímulo condicionado, provocando, desta forma,  a resposta de salivação quando apresentado. Já na experiência ao qual Alex foi submetido, as cenas de violência exibidas nos filmes que ele foi obrigado a assistir, adquiriram a função de provocarem a resposta reflexa de náusea, ou seja, adquiriram a função de estímulos condicionados. Para maiores detalhes sobre o condicionamento respondente, é interessante ler outro artigo deste blog intitulado: "O condicionamento respondente: definição e aplicações."

Era esperado com a realização do tratamento que Alex se sentisse mal todas as vezes que se engajasse em um comportamento violento. E de fato isso aconteceu. Depois de sair da prisão Alex se sente mal em inúmeras oportunidades em que tem a chance de se engajar em comportamento violento ou quando presencia alguma cena de violência. As fortes sensações de náusea sentidas por Alex o incapacitavam de cometer atos de violência. Enquanto estava ocupado sentindo náuseas ele não podia se engajar em comportamentos violentos. Trata-se aqui de incompatibilidades entre comportamentos do mesmo repertório comportamental, e venciam aqueles comportamentos que tinham maior força. No caso de Alex, venciam as náuseas, e para se esquivar de senti-las era necessário não cometer nenhuma violência.

Na história de Alex também é possível ver operar o reforçamento negativo. Engajar-se em atos de evitação da violência permitia que as punições fossem evitadas. As respostas reflexas sentidas como náuseas eram ao mesmo tempo um exemplo de comportamento respondente eliciado por cenas de violência, como eram também a consequência de comportamentos que tinham como objetivo a prática de ações violentas. As náuseas puniam os comportamentos de cometer violência, impedindo-os de acontecerem enquanto o estímulo aversivo "enjoos" estivesse operando. Em última instância, o corpo e os comportamentos de Alex eram suas fontes de punição. Ele não podia fugir de si mesmo, então, o melhor seria esquivar-se da violência. O esquema abaixo sintetiza a análise dos operantes de Alex:


Mas como era de se esperar o tratamento teve alcance limitado, pois logo as respostas reflexas de náusea foram se extinguindo, e as cenas de violência que sinalizavam a possibilidade de punição acabam perdendo esta função de sinalização, ou seja, perdem a função de serem estímlos discriminativos que sinalizam a ocorrência de punições. Se tais cenas perdem a função de estímulos condicionados no eliciamento das respostas reflexas de náusea, os comportamentos de violência têm a chance de ocorrerem sem serem punidos, pois também perdem a função de eliciarem as sensações de desconforto que atuavam como punição. Esta é uma questão clássica, ou seja, estímulos aversivos condicionados vez ou outra precisam ser pareados com o estímulo punidor incondicionado, caso contrário perdem a função de punidores ou de sinalizadores de punição.

No caso de Alex, seus comportamentos de cometer violência eram ao mesmo tempo estímulos condicionados para as respostas reflexas de náusea, sinalizadores de ocorrência da punição (náusea) e também eram punidores e geradores da punição que era sentida com o grande desconforto que acompanhava as crises de náusea. Quando é desfeito o condicionamento respondente, ou seja, quando as cenas de violência e os comportamentos de se engajar em violência perdem a função de eliciarem as respostas reflexas de náusea, os comportamentos violentos perdem também a função de punidores e sinalizadores de punição, ao mesmo tempo em que cometer violência deixa de ser punido pela ocorrência dos desconfortos. Neste sentido, o filme evidencia duas coisas muito importantes: 1) Um programa de modificação de comportamentos não deve se limitar à ocorrência dos comportamentos respondentes e nem deve 2) fazer uso de punição. A punição tem efeitos colaterais nocivos, e a sua eficácia em suprimir comportamentos dura enquanto o estímulo aversivo estiver presente. Além do mais, os estímulos aversivos condicionados precisam ser pareados habitualmente com estímulos aversivos incondicionados para não perderem a função de punidores.

Um pai que ameaça o filho com uma chinela nas mãos, vez ou outra precisa dar uma chinelada para que a chinela continue funcionando como estímulo sinalizador de punição ou ainda como estímulo punidor. Mas este mesmo pai ao usar de punição está sujeito aos efeitos colaterais que ela gera: contracontrole, ansiedade, medo, submissão etc. No caso de Alex, para que as náuseas continuassem funcionando como punição para os comportamentos de se engajar em violência, as cenas de violência teriam que ser pareadas ocasionalmente com a medicação, ou seja, ele teria que ser submetido de vez em quando a novas sessões do tratamento. Mas os efeitos do tratamento foram terríveis, pois transformaram Alex em um sujeito submisso e temeroso dos desconfortos que podiam ser sentidos a qualquer instante.

Melhor seria se Alex tivesse a oportunidade de acessar fontes de reforçamento positivo todas as vezes em que se engajasse em comportamentos mais funcionais. Aí estaríamos falando de um programa de modificação de comportamentos que também contemplaria a análise funcional dos operantes de cometer violência, ou seja, que contemplaria a função exercida por tais comportamentos, um programa que fosse capaz de analisar as variáveis responsáveis pela manutenção dos comportamentos violentos, e que não se limitasse somente a aplicação de técnicas de condicionamento respondente, que acima de tudo foram altamente intrusivas e tiveram resultados questionáveis, pois fizeram utilização de controle coercitivo. 

Se o filme ilustra bem o paradigma do condicionamento respondente e os efeitos nocivos da utilização do
controle aversivo, ele não serve para ilustrar a proposta da Análise do Comportamento e de sua filosofia, o Behaviorismo Radical. A Análise do Comportamento não defende o uso do controle aversivo, pois este tipo de controle tem consequências bastante nocivas. A respeito do controle comportamental, é sugerido o seguinte texto: "Controle Comportamental: algumas considerações". A Análise do Comportamento estuda o controle aversivo como forma de demonstrar as consequências que ele produz, e como forma de demonstrar que há outras alternativas muito mais viáveis. Um bom programa de modificação de comportamentos envolve a análise funcional dos comportamentos que se quer modificar e não somente a aplicação de técnicas para modificações comportamentais. Para aprofundar nesta questão, aconselho a leitura do seguinte texto deste blog: "Por que a Terapia Comportamental é Comportamental?".

Voltemos ao filme. Como no experimento de Pavlov em que o som perdeu a função de eliciar a resposta reflexa de salivação ao ser apresentado sozinho, ou seja, ao ser apresentado sem que fosse pareado com a alimentação, as cenas de violência deixaram de eliciar as respostas reflexas de náusea quando o pareamento entre elas e a medicação foi rompido. Ocorreu, então, uma extinção das respostas reflexas condicionadas de náusea. Este pareamento foi rompido quando Alex foi submetido a diversas ocasiões de violência ao sair da prisão. Quando, por exemplo, os antigos amigos de gangue que se tornaram policiais o agrediram, ou quando foi obrigado a ouvir a nona sinfonia de Beethoven na casa do escritor que ele agredira no início do filme. A nona sinfonia de Beethoven também adquirira a função de estímulo condicionado quando no experimento foi tocada como a música de fundo enquanto Alex assistia às cenas de violência.

Não suportando os efeitos provocados pela nona sinfonia de Beethoven, Alex se joga do terraço do quarto em que se encontrava. Depois disso vai parar num hospital todo quebrado. Enquanto jazia em uma cama de hospital, um médico e uma enfermeira tinham relações sexuais em uma cama ao lado. Em todas estas situações Alex vai sendo exposto a cenas de violência sem que elas fossem pareadas com o estímulo incondicionado. Por isso perdem sua função de eliciarem as respostas reflexas de náusea. O filme termina com Alex imaginando uma cena de sexo selvagem, o que demonstra que se engajar em atos de violência não mais funciona como estímulo condicionado para eliciar respostas reflexas de náusea e também como fonte geradora de punição.

Portanto, o tratamento ao qual Alex foi submetido revelou-se um fracasso total. Também pudera, pois além de coercitivo foi desprovido da realização de qualquer análise funcional dos comportamentos de se engajar em violência. Sem uma uma boa análise funcional qualquer procedimento utilizado para modificar quaisquer comportamentos tem uma grande chance de ser ineficaz.

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terça-feira, 16 de abril de 2013

Textos, Contextos, Pretextos e Protestos


“Um texto fora do contexto vira pretexto para protestar.” Este ditado popular nos informa algo muito importante sobre a comunicação, um fenômeno tipicamente humano, pois só os homens possuem comportamento verbal, e com ele podem descrever as contingências que modelam os seus comportamentos e os comportamentos das pessoas com quem se relacionam. A questão é que nem sempre as descrições que são feitas das contingências são de fato fiéis a elas e isso leva a erros de percepção, ou melhor dizendo, levam a erros comportamentais, pois as pessoas podem agir com base em suas descrições e desconsiderarem as contingências de reforço.

O ditado também informa que o contexto de um texto ajuda a dar sentido à narrativa. Opa, narrativa é comportamento humano. Comportamentos humanos, verbais ou não, ocorrem em contextos, e estes contextos estabelecem com os comportamentos relações de causalidade, aumentando ou diminuindo suas probabilidades de ocorrência. Este tipo de relação de causalidade é conhecido como controle de estímulos. Isso significa que o comportamento, pelo menos no caso do comportamento operante, é causado pelas consequências que produz e pelos contextos em que ocorre. Esta teorização é a materialização da famosa contingência de reforço, conceito que indica que consequências e contextos exercem controle sobre o comportar-se.

Textos e contextos, outra forma de dizer: comportamento e controle de estímulos. Outra forma de dizer que entenderemos mais claramente um comportamento quando olharmos para os contextos em que ocorrem. Se a narrativa sobre um comportamento  descontextualiza-o do contexto em que ocorre, somos privados de informações importantes sobre as variáveis relacionadas à sua emissão, o que leva a enganos de percepção, pois podemos acreditar que alguém agiu de determinada forma quando na verdade os motivos são outros completamente diferentes.

Imagine que você convide uma pessoa para ir ao museu. Vocês passeiam pelas galerias durante horas sem que a pessoa emita nenhuma palavra. Você certamente acha estranho e pode pensar: “que pessoa antipática, não deu nenhuma opinião sobre nenhuma das obras que estavam em exposição”. Este é um julgamento, uma tentativa de explicar o comportamento de não emitir nenhuma palavra a respeito das obras expostas no museu. O problema deste julgamento é que ele não considera as contingências de reforço responsáveis pelo comportamento do convidado de passeio. Esta pessoa conhece alguma coisa sobre obras de arte? Imagine que você é um crítico de obras de arte e esta pessoa não saiba nada a respeito. Ela pode se sentir constrangida e evitar qualquer comentário por temer as críticas que podem ser feitas. Trata-se de um comportamento de esquiva que evita possíveis punições. Outra causa possível para o seu comportamento é não conhecer nada sobre obras de arte.


Se ela não conhece nada sobre obras de arte, não tem em seu repertório comportamentos apropriados para emitir qualquer tipo de comentário. Em outras palavras, o contexto “museus com suas obras de arte” não exerce nenhum controle especial sobre os comportamentos que constituem o seu repertório comportamental. Ora, como ela vai então emitir qualquer comportamento verbal a respeito das obras? O rótulo “antipático” adjetiva o comportamento do convidado especulando sobre as causas relacionadas à sua emissão. É uma descrição de contingências descontextualizada, que não leva em conta o controle do contexto sobre o comportamento. Se levado a sério, o rótulo pode ser tomado como verdade e daquele episódio em diante se transformar em pretexto para não convidar a pessoa para outros tipos de passeios, produzindo até mesmo um afastamento, pois ele sinaliza que aquela relação é aversiva ou pouca reforçadora. O rótulo age como estímulo discriminativo sinalizando a ocorrência de possíveis consequências aversivas.

Um pacifista e defensor dos direitos dos animais pode se rebelar ao ver alguém chutando um cachorro na rua. Pode mover um processo contra o agressor. Pode denunciá-lo às autoridades competentes. Enfim, pode fazer muitas outras coisas. A questão é que este pacifista pode ter visto apenas parte da cena. Às vezes o cachorro tenha avançado sobre a pessoa e num ato de autodefesa ela acabou chutando-o. Por ter visto apenas parte da cena o pacifista acabou descontextualizando o comportamento de chutar o cachorro do contexto em que ele ocorreu e transforma o que viu em motivo para a realização de um protesto sem medidas.

Os dois exemplos ensinam que devemos ter cuidado com o que vemos e com o que ouvimos. Sobretudo, eles nos ensinam que devemos ter cuidado com o que falamos. Será que o que falamos é fiel às contingências responsáveis pelos comportamentos das pessoas com quem nos relacionamos, ou procedemos de modo a descontextualizar o que as pessoas fazem para privilegiar apenas a nossa percepção da situação? Dependendo da resposta à pergunta corremos o risco de nos conscientizarmos de que somos tagarelas que criam pretextos para protestar por motivos tão pequenos e banais, transformando, assim, nossas relações em infernos existenciais.

Há outro ditado que diz que "boca fechada não entra mosquito." Melhor manter a boca fechada do que protestar sem motivos e correr o risco de engolir mosquitos!


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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Por que a Terapia Comportamental é Comportamental?

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

É comum ouvirmos as pessoas dizerem: "a Terapia Comportamental dá muitos resultados em casos de fobias, principalmente as específicas." Que terapeuta comportamental nunca ouviu esta frase ou algo bem próximo disso? Se nunca ouviu não é terapeuta comportamental! Rs!!! Brincadeiras à parte, esta forma de pensar a terapia comportamental revela algo muito sério. Revela que as pessoas não sabem o que é a terapia comportamental. No imaginário coletivo a terapia comportamental é equivalente à aplicação de um conjunto de técnicas para a modificação do comportamento.

Nada mais enganoso do que achar que a terapia comportamental simplesmente se limita à aplicação de técnicas para a modificação de comportamentos. Uma determinada forma de conduzir o processo psicoterápico pode fazer uso de técnicas de modificação de comportamentos e mesmo assim não ser uma terapia comportamental, isso porque a terapia comportamental vai muito além da aplicação das técnicas pelas técnicas. As técnicas fazem parte do arsenal de intervenção em terapia comportamental, mas constituem apenas parte do setting clínico, e não constituem a parte mais importante. Isso mesmo, as técnicas de modificação de comportamentos não constituem a parte mais importante do setting clínico em terapia comportamental.

Então, vem a pergunta: o que faz com que a terapia comportamental mereça a denominação "comportamental"? De cara já sabemos que não é a simples aplicação das técnicas que fazem com que a terapia comportamental mereça tal denominação. É preciso entender que as técnicas são recursos para a realização de intervenções. Imagine um cientista que trabalha com tubos de ensaios e pipetas. Tubos de ensaios e pipetas fazem parte do arsenal que constitui o arranjo experimental sem o qual não seria possível o estudo de algumas reações químicas. Podem até ser parte do cenário que constitui este arranjo, mas não definem o que faz o profissional que estuda estas reações, neste caso o químico.

Seria muito grosseiro identificar o que faz o químico com a utilização de tubos de ensaios e pipetas. O que o químico faz vai muito além da utilização de tubos de vidro. Ele até precisa destes instrumentos para fazer a sua ciência, mas ela poderia muito bem ser construída sem eles. A comparação é válida para definir o que se faz na terapia comportamental. Técnicas de modificação do comportamento são análogas às pipetas e tubos de ensaio, mas não definem o que é a terapia comportamental. Como recursos para a realização de intervenções elas podem produzir modificações comportamentais. No entanto, estas modificações precisam estar ancoradas naquilo que é chamado de análise funcional do comportamento.

Somente com a análise funcional do comportamento o terapeuta tem condições de selecionar que comportamentos vão se tornar o alvo da intervenção e que contingências de reforço precisam ser modificadas para que os comportamentos sejam alterados. Isto joga por terra a crítica de que a terapia comportamental não consegue elucidar quais são os significados por trás de cada tipo de conduta. A terapia comportamental não faz outra coisa que não seja tornar claro quais são estes significados. Quando é elucidada qual é a função de um comportamento, ou seja, que variáveis estão relacionadas à sua ocorrência, estão sendo esclarecidos os seus significados, os motivos que fazem com que ele ocorra desta e não daquela forma.

O que faz com que a terapia comportamental mereça a denominação "comportamental", são os procedimentos analíticos que permitem uma análise minuciosa das contingências de reforço relacionadas à ocorrência dos comportamentos clinicamente relevantes. Estes procedimentos incluem a análise do comportamento, de suas consequências, dos contextos em que ocorre e dos esquemas relacionados às formas como as consequências seguem os comportamentos por elas mantidos. Há esquemas que produzem comportamentos resistentes à extinção, enquanto que outros produzem comportamentos menos vigorosos e facilmente extinguíveis.

Se todas as variáveis citadas forem levadas em consideração, dificilmente o comportamento modificado voltará a se manifestar, o que joga por terra outra crítica dirigida à terapia comportamental, de que nesta modalidade de terapia não há mudanças significativas, pois são abordadas apenas as manifestações sintomáticas. Em outras palavras, é dito por aí que a terapia comportamental lida apenas com sintomas. Esta clássica visão do comportamento como sintoma de processos mentais é descartada pela terapia comportamental.

O comportamento é produto de contingências de reforço. Ele também é produto de contingências filogenéticas e culturais, mas estas não estão ao alcance do trabalho terapêutico. Ele não é produto de processos mentais. Se as contingências de reforço forem efetivamente modificadas o comportamento também será. Então, não há probabilidade de ocorrerem novas manifestações sintomáticas, ou seja, de que o comportamento modificado volte a ser fonte de problemas.

Portanto, o que torna a terapia comportamental uma modalidade de intervenção psicoterápica que mereça a denominação "comportamental" são todos os procedimentos relacionados à analise e modificação dos comportamentos clinicamente relevantes. Não há modificação efetiva de comportamentos sem uma análise minuciosa das contingências de reforço. As modificações até podem ser alcançadas, mas sem uma análise das contingências de reforço elas não serão duradouras.

E você, entendeu o que é a terapia comportamental? Deixe os seus comentários sobre o texto nos campos destinados para este fim.

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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Metamorfoses

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Há não muito tempo vi na foto de capa do facebook de alguém uma foto de um milho de pipoca e do lado do milho uma pipoca. Logo abaixo estava escrito que grandes mudanças ocorrem de dentro para fora. A imagem você pode ver aí ao lado. Fiquei pensando sobre o assunto e me perguntei: "o Behaviorismo Radical concorda com esta afirmação?" Se ela estiver se referindo a possibilidade de que mudanças são originadas por um eu interior, o Behaviorismo Radical vai discordar diametralmente.

Mas mesmo sabendo a posição do Behaviorismo Radical com relação a este tema, confesso que continuei encantado com a metáfora do milho que quando aquecido se transforma em pipoca. Muita gente gosta de usar essa historinha da pipoca para justificar que é dentro do organismo que se processam as mudanças que se fazem visíveis em seu exterior. No entanto, poucos são os que param para pensar que para o milho se transformar em pipoca precisam existir algumas condições:

1. É necessário um fogão com uma panela, ou um microondas e um pacote de pipoca de microondas;
2. A panela precisa ser aquecida com um pouco de óleo em um fogão, o mesmo é válido para o pacote de pipoca, mas este é aquecido no microondas;
3. É preciso existir alguém para controlar o ponto de estouro das pipocas, pois elas podem se queimar ou se transformarem em piruá. Aqui em Minas Gerais piruá é o milho de pipoca que não estourou.

Sem as condições 1, 2 e 3 não há pipocas. Simples assim! A mudança não está no interior do milho. O milho pode até reunir as características genéticas para se transformar em pipoca. Isso é fato! Mas estas características de nada adiantariam se as condições 1, 2 e 3 não fossem atendidas. Penso que o leitor já deva estar capitando a minha mensagem. O que são as condições 1, 2 e 3? Estas se referem às contingências de reforço. Elementar meu caro Watson!

Se alguma coisa ocorre dentro do organismo como as mudanças fisiológicas, e se estas são descritas como a emoção "x" ou "y", é porque houveram contingências de reforço que possibilitaram a ocorrência destas mudanças. Antes que me acusem de desconsiderar as contingências filogenéticas, trato de adiantar que elas também têm um papel em tudo isso. Mas como isso é quase uma obviedade, não entrarei no mérito da questão.

O que quero que fique claro é que o que é sentido é produto das contingências de reforço da mesma forma que o comportamento também o é. Se não houvesse fogo todo o potencial genético do milho não entraria em ação e ele não se transformaria em pipoca. Então, o que de fato é relevante são as condições que possibilitam a manifestação deste potencial. Transpondo a metáfora para o caso humano de modo que possamos explicar porque nos comportamos assim ou assado, o que é relevante é identificar as contingências que produzem tanto o que é sentido quanto aquilo que fazemos enquanto nos sentimos desta ou daquela maneira.

Portanto, a origem das mudanças não estão no interior do organismo, mas nas condições que afetam o seu comportar-se. Estas condições também afetam o que sentimentos, pois os sentimentos também são comportamentos. Clique aqui para ser direcionado para outros textos em que o comportamento emocional é debatido com mais detalhes. Se é comum tomarmos sentimentos como exemplos de causas de comportamentos, é porque geralmente eles ocorrem enquanto nos comportamentos, próximos ou antes de nos comportarmos. A proximidade temporal entre o sentir e o agir acaba gerando toda esta confusão.

Por conseguinte, para que os comportamentos se modifiquem e as metamorfoses possam operar, não são os sentimentos que precisam ser alterados. Qualquer mudança é produto em modificações que se processam nas contingências de reforço. Alterando as contingências alteramos comportamentos e sentimentos. Então, sempre que alguém te contar a história da pipoca, lembre-se de olhar para as contingências responsáveis pela transformação do milho. Agindo assim você aumenta as chances de olhar para as contingências que operam em sua vida. Não se esqueça, as metamorfoses estão nas contingências!

Vixe, termino este post com vontade de comer pipoca! Rs!!! E você, o que achou do texto? Poste seu comentário abaixo.

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