sábado, 1 de junho de 2013

Cinco Dicas Para Acabar Com Um Casamento

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

O texto que se segue não tem a pretensão de incentivar os casais a acabarem com os seus casamentos. Ao contrário, ele se presta a esclarecer os tipos de situações que costumam minar as relações entre as pessoas casadas. Ao invés de seguir as dicas, é aconselhado que se faça tudo ao contrário, ao menos que o leitor queira colocar um fim no seu relacionamento. Seguem cinco tipos de situações que é comum ver os casais vivendo, e que de alguma maneira acabam gerando grandes "desgastes" nas relações.

Acredite na fábula do amor eterno. Nossa cultura permeada por valores cristãos e construída sobre o ideal da monogamia, costuma incentivar a crença no amor eterno. No altar os casais juram ficarem um do lado do outro até que a morte os separem. Nada contra tal juramento, desde que não se acredite que o amor vai subsistir às tempestades sem que se faça algo para que ele possa ser fortalecido. Explico-me! Amor é comportamento operante. Todos sabemos que comportamentos operantes são mantidos se forem reforçados. Comportamento reforçado é comportamento mantido. O problema com a fábula do amor eterno é que ela leva as pessoas a pensarem: "se ele(a) me ama precisa me tolerar do jeito que sou!" Com isso a pessoa abre mão de buscar melhorias em seus próprios comportamentos. Pior do que isso, ela deixa de reforçar os comportamentos de amar do(a) parceiro(a) por acreditar que ele(a) é obrigado(a) a amá-la só porque fez o juramento de suportá-la até o fim de sua vida. Nada mais incoerente! Comportamento de amar que não é consistentemente reforçado pode se extinguir!

Um relacionamento não pode estar fundamentado em um juramento! Um relacionamento precisa estar fundamentado em práticas concretas. É necessário que os comportamento que expressem amor sejam reforçados. Amar não é uma obrigação que se coloca em prática em função de um juramento. Amar é comportar-se porque o comportamento é seguido de reforços. Se as pessoas entendessem que relacionamentos são feitos de comportamentos, certamente elas teriam maiores chances de serem felizes, pois se comportariam de modo a prover reforços para os comportamentos de amar do(a) parceiro(a).

Desrespeite a individualidade do(a) parceiro(a). Via de regra alguém casa com outro alguém diferente de si. Nem gêmeos idênticos são de fato idênticos. Podem possuir a mesma carga genética, mas são psicologicamente diferentes, portanto, possuem repertórios e tendências comportamentais bastante distintas. Numa relação é preciso respeitar a individualidade do parceiro. Outro valor de nossa cultura cristã e monogâmica é que os casais devem ser uma só carne. Muitos levam isso ao pé da letra e acham que devem compartilharem todos os seus momentos, ou seja, que devem fazer tudo juntos! Nada mais entediante e falacioso. É fácil combater tal argumento. Pessoas são diferentes, portanto, o que é reforçador para um pode não ser para o outro.

Então, os parceiros devem ter os seus momentos em que possam fazer coisas sozinhos.Se o cara gosta de futebol ele não precisa obrigar a esposa a acompanhá-lo nas peladas no clube. Às vezes ela não gosta de futebol, então não deve se sentir obrigada a acompanhá-lo, mas também deve tentar não impedi-lo de jogar com os amigos. O que muitas vezes acontece entre casais é que depois de casados eles abrem mão de prazeres que desfrutavam durante a vida de solteiro. É lógico que muita coisa muda com a vida de casado. No entanto, não se pode abrir mão de tudo. Pelos menos alguns dos prazeres, ou em outras palavras, ao menos algumas fontes de reforçamento precisam ser mantidas, sob pena de privar um dos parceiros de reforços importantes, o que gera frustração, e frustração acaba gerando raiva.

Não valorize a relação sexual. A história evolutiva nos tornou sensíveis aos reforços de origem sexual. É uma questão filogenética. A prática sexual foi importante para a sobrevivência da espécie humana. Ela contribuiu para o aumento da prole, mas também se transformou em importante fonte para a obtenção de prazer. Portanto, os reforços sexuais extraem seu poder da história evolutiva da espécie humana, sendo importantes reforçadores primários, ou seja, reforçadores de importância biológica. Disso conclui-se que sexo não deve ser feito apenas com um fim procriativo. Não somos animais. Fazemos sexo porque é prazeroso. Não valorizar a relação sexual é ignorar que ela pode ser uma interessante fonte de prazer para o casal, ou seja, que ela pode ser uma interessante fonte de reforços positivos. Ela também pode ser um momento em que o casal se encontra para aprofundar a sua intimidade, para aprofundar no conhecimento do corpo e dos sentimentos do(a) parceiro(a). Desvalorizar a relação sexual é ignorar que esta pode criar as contingências que possibilitam a construção deste tipo de conhecimento.

Logicamente existem pessoas que não conseguem viver a relação sexual em toda a sua plenitude, pois têm histórias de repressão sexual que as bloqueiam para o sexo. Neste caso é importante buscar ajuda profissional, pois a relação sexual pode acabar se transformando em fonte geradora de estímulos aversivos que produzem ansiedade, temor, entre outros sentimentos desconfortáveis.

Aja com indiferença. Dentro de um relacionamentos cada parceiro têm demandas diferentes. Se tornar indiferente a estas demandas pode ser prejudicial à relação. A indiferença se traduz pelo comportamento de não valorizar aquilo que o outro parceiro considera importante. Isso leva a suspensão de reforços condicionados importantes, tais como: afeto, carinho, atenção etc. Inevitavelmente a suspensão destes reforços vai colocar em extinção comportamentos de demonstração de amor por parte do parceiro. Se um dos parceiros esfria, isso acaba atingindo a outra parte, pois ela vai sentir a mudança de comportamentos. No entanto, esta outra parte pode não estar percebendo que o esfriamento do parceiro se deve à suspensão de importantes reforços condicionados. Então, um relacionamento é formado por comportamentos em constante interação. A emissão de um comportamento de uma das partes acaba afetando a outra parte e isso precisa ficar bem claro. Quase nunca um relacionamento se esfria por causa apenas de um dos parceiros. Mas, pode ser que o comportamento de um tenha mais peso do que o outro. No entanto, somente uma avaliação profissional pode identificar os pesos dos comportamentos dos parceiros dentro de uma relação.

Abuse do controle aversivo. Controle aversivo diz respeito ao uso de punição ou de ameaça de punição. Os subprodutos deste tipo de controle são inúmeros: ansiedade, tristeza, raiva, descontentamento, retraimento emocional e social etc. Há casais que não conseguem conversar, eles apenas berram, ou seja, só conversam para punirem a outra parte. Não observam a ocorrência dos comportamentos que beneficiam a relação e nem os reforçam. Mas quando um comportamento incômodo é manifestado logo vem a punição. Isso gera a seguinte impressão na parte punida: "ele(a) só repara em meus defeitos. Será que não tenho qualidades?" É preciso lembrar que o outro é diferente de mim, e ele nunca agirá como eu ajo. Alimentar este tipo de expectativa é criar condições para se frustrar, pois quando o outro não corresponde ao que eu espero, minha atitude é puni-lo por agir de modo não esperado. O outro pode reagir a punição exercendo contracontrole, então, cria-se as condições para que o conflito se estabeleça. Ainda que o outro não exerça contracontrole, ele inevitavelmente vai se afastando da fonte de punições e este afastamento acaba distanciando os parceiros e tornando mais escassos os reforços positivos na relação.

Dessas cinco dicas fica claro uma coisa: relações são o produto de contingências que surgem da interação entre os parceiros. A relação é produto da maneira como se comportam os parceiros. Mudanças na relação só ocorrem se houverem mudanças de comportamentos. Não há milagres! Sem mudanças comportamentais não há mudanças que se efetivem no interior da relação.

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9 comentários:

  1. Esse texto é fantástico! A crença do amor romântico nos faz cometer esses erros por acreditarmos que ele não precisa ser reforçado!

    www.leticiapsicologa.blogspot.com

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    1. Verdade Letícia, a crença do amor romântico gera esses subprodutos indesejáveis!

      Obrigado pela participação.

      Abraços!

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  2. Olá Bruno:
    Um texto excelente e super atual.
    Vamos aos pontos:
    Acredite na fábula do amor eterno: sua frase, Um relacionamento precisa estar fundamentado em práticas concretas, é perfeita. Sem estímulos, não há amor que resista a rotina;
    Desrespeite a individualidade do(a) parceiro(a): Os opostos se atraem e, ..... SE DISTRAEM, rsrsrsrsrs. Esquecem que precisam manter espaços e o respeito a individualidade;
    Não valorize a relação sexual: o ato sexual é uma excelente oportunidade de reforçar os laços afetivos;
    Haja com indiferença: aqui creio que é a típica situação de ação e reação. Se um parceiro deixa de demonstrar atenção (por exemplo), a reação do outro é fazer a mesma coisa, o que acaba com qualquer relação;
    Abuse do controle aversivo: aqui é praticamente o resultado do comportamento anterior. Visto que a indiferença gera uma resposta aversiva, que por sua vez gera um comportamento indesejado pelo parceiro e o círculo se torna vicioso.
    Estava com saudade de vir aqui e me deliciar com seus ótimos textos.
    Bjs.:
    Sil
    http://meusdevaneiosescritos.blogspot.com.br/

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    1. Belas observações Silvana! Faço minhas as suas palavras. Sempre que vc comenta por aqui acaba deixando reflexões importantes.

      Obrigado pela participação.

      Abraços.

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  3. Muito bom o texto, mexeu em vários pontos fundamentais para um relacionamento funcionar (ou não, hehehe). Um abraço!

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  4. Nossa, disse tudo! Uma postagem de alerta a casais que talvez estejam vivenciando isso. O que não fazer .. São pontos importantissimos, horriveis viver em maneiras assim. Não valorizar a relação sexual, ser indiferente e punir para mim são os piores.
    abraços :*

    Coruja Essência

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    1. Concordo plenamente Lane! Não dá para não valorizar a relação sexual e transformar o relacionamento num ringue de luta. A relação sexual é uma importante fonte de prazer e um interessante meio para o aprofundamento da afetividade existente entre o casal.

      Obrigado pela participação!

      Abraços.

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  5. Estou passando pro isso e já não sei mais o que fazer .
    😢

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