domingo, 10 de março de 2013

"É Preciso Saber Viver": uma análise comportamental

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

A música de Roberto Carlose e Erasmo Carlos "É Preciso Saber Viver" tem uma mensagem linda. Neste texto propomos uma análise comportamental de sua letra, e desta análise esperamos sinceramente que as contingências que a música descreve se transformem para todos nós em alvo de reflexão, pois em dias tão atribulados como os que vivemos, muitas são as pessoas que não estão sabendo viver e desfrutar dos pequenos prazeres que a vida pode nos proporcionar. Isso ocorre porque em muitas ocasiões estamos ocupados demais correndo atrás de ilusões que não nos deixam sentir e viver em todas as matizes esses pequenos prazeres.

"Quem espera que a vida / Seja feita de ilusão / Pode até ficar maluco / Ou morrer na solidão / É preciso ter cuidado / Pra mais tarde não sofrer / É preciso saber viver". "É preciso ter cuidado para mais tarde não sofrer", eis aí a essência do comportamento operante. O que fazemos no presente é seguido de consequências. Estas consequências modelam ao mesmo tempo as topografias e as funcionalidades de nossos comportamentos, gerando, assim, propensões para agir de diferentes modos. Estas propensões se manifestam em condições semelhantes em que o comportamento foi modelado, o que revela a ação do contexto sobre o comportar-se, algo que é tecnicamente chamado de controle de estímulos.

Sendo assim, o que fazemos no presente será determinante no tocante à forma como nos comportaremos no futuro. Conscientizar-se das condições que podem afetar nossos comportamentos no presente, é uma forma de aumentar no futuro a margem de controle sobre as circunstâncias relacionadas às nossas propensões de agir desta ou daquela maneira. Isso pode potencializar as chances de que reforços positivos sejam produzidos e contingências de controle aversivo sejam mitigadas. O conhecimento a respeito de nós mesmos é primeiro passo rumo a uma vida mais feliz!

"Quem espera que a vida / Seja feita de ilusão". Muitos são os que sofrem porque encontram na fantasia, ou melhor dizendo, encontram no comportamento de fantasiar seu único refúgio. Quem é que não fantasia? Certamente todos nós vez ou outra nos refugiamos em nosso mundinho de fantasia, e como nesse mundinho os reforços positivos ocorrem em abundância! Isso é normal e saudável, desde que não façamos deste comportamento a nossa única via para a obtenção de reforços positivos.Uma perda de contato com a realidade minimiza as chances de conseguirmos transformá-la de modo que os reforços possam ocorrer de verdade. Mais cedo ou mais tarde a perda de contato com a realidade acaba ocasionando sofrimento, pois as chances reais para sermos felizes inevitavelmente são perdidas. Há até quem se sinta maluco quando isso acontece: "Pode até ficar maluco / Ou morrer na solidão." Fica maluco de frustração por ver que reforços que poderiam ser obtidos, deixam de ocorrer por medo de se encarar a realidade.

"Toda pedra do caminho / Você pode retirar / Numa flor que tem espinhos / Você pode se arranhar / Se o bem e o mal existem / Você pode escolher / É preciso saber viver." "Toda pedra do caminho / Você pode retirar": obstáculos fazem parte da vida. Não há vida sem algum controle aversivo, não há vida sem que às vezes ocorra alguma punição. A questão é saber se as punições estão sendo geradas pelo nossos comportamentos. Se sim, é hora de nos questionarmos: posso evitar certos cursos de ação? Isso é auto-conhecimento, ou seja, a descrição das contingências que estão relacionadas aos nossos cursos de ações, gera um tipo de conhecimento que pode ser utilizado para modificá-las, ou melhor dizendo, gera um tipo de comportamento que possibilita o melhor controle de outros comportamentos de nossos repertórios.

Esse melhor controle nos dá mais condições para retirar as pedras do caminho. Nos dá também melhores condições para entender que nem tudo que é belo quer dizer que é bom. Uma rosa pode ser bela, mas tem espinhos que podem nos arranhar. É preciso saber manusear uma rosa, como também é preciso saber manusear as contingências de reforço responsáveis pelos nossos comportamentos. Pode parecer bonito, por exemplo, se embebedar com os amigos, mas este comportamento tem consequências que produz a possibilidade de que arranhões irreparáveis sejam gerados. Saber se divertir, até isso envolve auto-conhecimento. Temos que nos perguntar: quais são os meus limites? Também podemos nos arranhar aos nos relacionarmos com as pessoas, mas isso não é motivo para transformar a vida em um muro das lamentações. Devemos escolher para o nosso círculo de convivência pessoas que nos fazem bem. Não somos obrigados a nos relacionarmos com pessoas desagradáveis.

"Se o bem e o mal existem / Você pode escolher." Muitas vezes nos encontramos em situações de conflito sem saber que tipo de decisão tomar. Escolheremos melhor se conhecermos as consequências que cada escolha pode produzir. Conhecendo as contingências relacionadas aos nossos comportamentos, podemos aumentar a probabilidade de ocorrência daqueles cursos de ações que produzem reforços positivos. Da mesma forma podemos evitar o controle aversivo relacionados a outras formas de agir. Certo é, que tudo isso só é possível com uma boa dose de auto-conhecimento.

Portanto, o que a música nos ensina, é que o auto-conhecimento é o ponto de partida para poder saber viver. Sem auto-conhecimento vamos continuar desperdiçando boas chances para sermos felizes. Continuaremos a reclamar, transformando, assim, a vida em um grande muro das lamentações! E você, se conhece bem o suficiente para aproveitar as chances de ser feliz que a vida tem te dado? Agora que terminou de ler o texto, curta a música na versão do Titãs:


Outros artigos semelhantes a este? Abaixo você encontra outras indicações de leituras do Café com Ciência, não deixe de conferir.

13 comentários:

  1. Olá Bruno, como vai? :)

    Muito boa a análise da letra da música, eu particularmente também acho muito bonita e verdadeira esta mensagem :)
    Passei muitos anos cometendo erros com extremismos, em alguns momentos vivia só de ilusão, em outros, realista demais, nenhum dos dois caminhos me trouxe bons frutos, até que comecei a refletir sobre isso e cheguei à conclusão citada, o melhor caminho para o equilíbrio e uma vida plena é o auto conhecimento :)
    Desde que comecei a fazer estes mergulhos interiores e ser mais observadora com relação às minhas atitudes e comportamento, muita coisa melhorou, felizmente :)
    Como citado, sem este equilíbrio podemos mesmo ficar malucos ou solitários e viver uma vida sem qualidade, deixando passar boas oportunidades de aproveitar o presente, construir um futuro e até mesmo de aprender as lições que os desafios nos oferecem :)
    Todos temos muito a aprender, mas o caminho do auto conhecimento é maravilhoso para que saibamos como seguir melhores caminhos e viver, e não apenas "sobreviver" e quando nos dermos conta, a vida foi-se e não a vimos passar :)

    Muito bom como sempre, adorei!
    Um enorme abraço e bom restinho de semana :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sammy, muito obrigado pela participação. Como de costume vc fez observações valiosíssimas. De fato, não é nos extremismos que vamos encontrar a solução para os nossos problemas. O caminho para a solução de muitas questões passa pelo autoconhecimento. Não é um caminho fácil de ser trilhado. Às vezes ele é até dolorido, mas mesmo assim vale a pena percorrê-lo, pois o produto final é uma vida experenciada com mais equilíbrio.

      Abraços e bom restinho de semana!

      Excluir
  2. Adorei a análise irá me ajudar muito , pois vou trabalhar com os educandos da EJA fase I esta música, em breve postarei o trabalho realizado.
    Retribuindo a sua parceria estou levando o Banner do seu blog.
    Blog Ensinar é Aprender

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom saber que a análise que fiz da música vai te ajudar com o seus alunos do EJA. Aproveito para agradecer a parceria.

      Abraços e bom fim de semana!

      Excluir
  3. Sou coordenadora pedagógica em uma escola da rede pública e muito tenho me preocupado com o comportamento dos adolescentes e jovens dessa escola . Sabe àqueles jovens que são taxados de "Não querem nada"? Eu acredito que eles querem, só não sabem ainda o que querem e é preciso que alguém esteja ali, acreditando neles, ajudando-os a encontrarem-se para encontrarem o caminho
    Pensando e pesquisando sobre projetos de intervenção que tratem da valorização da vida, encontrei esta pérola. Tenho certeza que muito me ajudará na elaboração de um projeto. Se tiveres mais material, agradecerei muito.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acreditar nestes jovens já é um excelente começo. Se ninguém acreditar em seus potenciais, como eles mesmos poderão acreditar? Continue acreditando neles, pois isso os incentivará a buscar melhores caminhos.

      Não sei que tipo de texto você procura. No blog você encontrará diversos tipos, mas todos têm algo em comum: a adoção do referencial teórico do Behaviorismo Radical. Dê uma vasculhada no blog, talvez encontre mais alguma coisa que possa lhe ajudar.

      Abraços e obrigado pela participação!

      Excluir
    2. Oi, Bruno Alvarenga!
      Sou aluna de Psicologia e estou desenvolvendo um Projeto de Análise Comportamental e também criarei uma Fan Page no Facebook, que dentre as postagens colocarei essa música é, a sua análise contribuirá muito.
      Valeu!

      Excluir
    3. Quem sabe você aceita gravar um vídeo explicando essa análise!
      Está feito o convite.
      Abcs.
      amelinapimenta@hotmail.com

      Excluir
    4. Todas as possibilidades são bem-vindas. É algo que pode ser alvo de reflexão.

      Excluir
  4. Respostas
    1. Este blog não aceita comentários baseados em fundamentalismo religioso.

      Excluir
  5. Belo texto, vc saberia informar porque um trecho da música é cantada so la no início com os Vips, e no próprio disco do Roberto não consta sendo que a composição é dele junto com Erasmo, se souber gostaria de saber , abraço
    paulozander@hotmail.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Paulo Zander, obrigado pela participação. Mas não tenho a informação de que precisa. Sinto muito por não poder ajudar.

      Excluir

Obrigado por participar!