domingo, 24 de fevereiro de 2013

Controle comportamental: algumas considerações

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Neste texto o leitor vai encontrar uma reflexão sobre a questão do controle comportamental. Ao elucidar tal questão, o texto tratará de examinar como a Análise do Comportamento aborda esta temática, e como ela está ligada a possibilidade de existência desta ciência que tem como objeto de seus estudos o comportamento. Inevitavelmente não será possível fugir de uma definição sobre o que é comportamento, pois no fim das contas esta definição fornecerá os parâmetros para esclarecer que o controle comportamental é uma questão de fato e não de escolha, ou seja, querendo ou não nossas condutas continuarão sendo controladas pelo ambiente da mesma forma que o mundo ao nosso entorno é controlado por nós. A própria definição de operante pressupões essa mútua relação de controle estabelecida entre o comportar-se e as modificações introduzidas no ambiente a partir do momento que nos comportamos.

A questão é tão delicada que ao menor sinal de sua menção os ânimos de muitos se exaltam. Como assim controlar o comportamento? Isso representaria a construção de uma sociedade de dominados e dominadores, é o que acreditam os críticos da noção de controle. Como se esta sociedade já não existisse! Os críticos da noção de controle comportamental cofundem o controle intrínseco da conduta humana pelo ambiente com o controle aversivo. Controle aversivo é apenas uma das formas de controle existentes. Uma árvore na floresta para fazer referência a uma metáfora utilizada por Sidman (1995).

De acordo com Sidman (1995) a floresta é a questão do controle comportamental, e uma árvore na floresta é o controle aversivo, ou seja, é o controle por uso de punição ou por ameaça de punição. Não temos a menor dificuldade para lidar com a temática do controle quando o que está sendo discutido é o comportamento de fenômenos físicos. Mas quando falamos de fenômenos comportamentais é inadmissível pensar em controle. Então, a questão é definir o que é controle, elucidar que controle comportamental e controle aversivo são duas questões distintas, e que falar de controle não implica em fazer uso de punição.

Comecemos a difícil tarefa de definir controle comportamental com um exemplo. Há poucos dias um meteorito caiu na Rússia causandos muitos estragos e deixando muitas pessoas feridas. Isso ocorreu porque um meteoro entrou na órbita terrestre e foi atraído por seu campo gravitacional. O campo gravitacional da Terra exerceu controle sobre o meteoro. Quando este passou pela atmosfera acabou se partindo em diversos pedaços, transformando-se, então, em um meteorito. Um meteorito é um fragmento de um meteoro.

Este exemplo é bastante propício para podermos refletir sobre a questão do controle comportamental. O meteoro foi atraído pelo campo gravitacional terrestre. Eis aí uma relação de controle, uma relação de determinação, ou melhor, uma relação de causalidade. O meteoro não entrou na órbita terrestre por acaso. Isso se deu por causa da força da gravidade. A massa da Terra é muito maior do que a do meteoro, portanto, seu poder de atração gravitacional é muito maior. O mesmo ocorre entra a Terra e a Lua, entre a Lua e as Marés e entre a Terra e o Sol.

O movimento de translação da Terra ocorre por causa do campo gravitacional do Sol. O sol controla o movimento da Terra. O movimenta da Lua entorno da Terra segue o mesmo princípio, como também o fenômenos das marés alta e baixa que sobem e descem de acordo com a proximidade da Lua em relação à Terra. Não temos a menor dificuldade para admitir que todos estes fenômenos traduzem relações de controle, e com base nestas relações que podem ser medidas, os atrônomos têm como realizarem predições sobre em que ponto a Terra se encontrará em relação ao Sol daqui a 30 anos, e como as estrelas serão vistas no céu no equinócio de outono no hemisfério norte daqui a 100 anos.

Todos estes exemplos traduzem relações de determinação entre fenômenos físicos. Relações de determinação são o mesmo que relações de causalidade. Em relações de causalidade, relações que se estabelecem quando há dependência entre dois ou mais fenômenos, é possível predizer como estes fenômenos vão se apresentar se for conhecido os comportamentos de cada um deles ou de pelo menos uma parte substancial dos mesmos. Se há relações de dependência, a presença de um fenômeno aumenta as chances de outros acontecerem, pelo menos aqueles que dependem da ocorrência do primeiro.

A condição para um meteorito atingir a superfície da Terra é um meteoro entrar em sua órbita. A condição para que um objeto de metal saia do repouso e comece a se movimentar quando dele for aproximado uma barra de imã, é que haja um imã que possa criar um campo eletromagnético substancial, e que seja criada uma proximidade tal que este campo atinja o objeto de metal. A presença do fenômeno campo eletromagnético altera o comportamento do objeto de metal, eis aí uma relação de dependência em que a presença de um fenômeno altera o funcionamento (comportamento) do outro.

A esta altura já deve ter ficado claro que controle é o mesmo que relações de dependência, relações de causalidade. Com o comportamento humano não é diferente. O comportamento enquanto uma função do organismo, enquanto uma ação empreendida pelo organismo, ação que contribui para sua sobrevivência, estabelece com outros fenômenos, neste caso fenômenos ambientais, relações de dependência. Uma vez que os cientistas se tornam capazes de descreverem estas relações com as chamadas leis científicas, podem, assim, intervirem nestes fenômenos e mudarem suas formas de ocorrência, desde que sejam capazes de fazer com que determinados eventos ocorram de forma a aumentar a probabilidade de ocorrência de outros eventos a eles relacionados, que com que eles tenham uma relação de dependência. O que as leis científicas fazem é descreverem relações de causalidade, nada além disso!.

O que a Análise do Comportamento faz é estudar as relações de dependência entre eventos ambientais e eventos comportamentais. A relação entre reforçamento e o aumento na frequência de um determinado comportamento é uma relação de dependência. Apresentados os reforços apropriados um comportamento pode ser alterado, pode ser controlado de modo que sejam maximizadas as possibilidades de que produza benefícios e diminuam as possibilidades de que produza malefícios. O controle está aí, é uma questão de fato. Ao fugirmos desta questão estamos evadindo da possibilidade de construírmos meios para tornar o mundo em que vivemos um lugar mais habitável, estamos desperdiçando recursos que poderiam ser aplicados na construção de relações mais saudáveis entre pessoas.

Onde quer que existam pessoas se comportando os seus comportamentos estarão sendo controlados por eventos ambientais consequentes (reforçamento) e antecedentes (controle de estímulos). Temos a opção de continuarmos inconscientes a respeito da existência deste controle, ou temos a opção de descrevê-lo e utilizar os meios adequados para que o comportar-se crie condições para que as pessoas se tornem seres humanos melhores. A Análise do Comportamento ao falar do controle não está advogando o uso do controle aversivo. Ao contrário, a Análise do Comportamento é defensora de um mundo livre do controle coercitivo, pois muitos já foram os dados produzidos sobre os efeitos nocivos gerados pelo uso de punições.

É porque existe controle comportamental é que nossa conduta é ordenada e previsível. Se não fosse assim viveríamos num mundo completamente caótico, pois não seríamos capazes de prevermos os resultados de nossas ações. E o que faz a Análise do Comportamento é apenas elucidar o controle comportamental, de modo a ter condições de oferecer à humanidade meios para construção de um mundo melhor, começando pela construção de pessoas melhores. Se já temos as ferramentas para isso, ou seja, para a construção de um mundo melhor, o que estamos fazendo de braços cruzados? É hora de sairmos do obscurantismo medieval e admitirmos que o controle é uma questão de fato, acreditando ou não em sua existência, ele continuará existindo.

E agora, as coisas ficaram mais claras? Opine no campo para comentários!

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REFERÊNCIAS:

SIDMAN, M. Coerção e suas implicações. Campinas (SP): Editorial Psy, 1995.

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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Professora Helena: a professora que encantou o Brasil

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

A novela "Carrossel" exibida pelo SBT no horário nobre tem aterrorizado a concorrência. Vem batendo facilmente o IBOPE de programas exibidos no mesmo horário, e tem assustado inclusive a Globo, pois a emissora vê parte da audiência do Jornal Nacional migrar para o SBT. A dupla William Bonner e Patrícia Poeta têm enfrentado um forte concorrente, uma novela infantil que é o remake de uma novela mexicana filmada na década de 1980 e exibida pelo SBT nos anos de 1991 e 1995.

A criançada está adorando. Mas também existem muitos adultos vidrados na novela, seja para seguirem seus filhos, ou porque os personagens de Carrossel conseguem exercer um fascínio sobre o público adulto. Um destes personagens é a professora Helena. Helena é professora de uma escola conhecida como Escola Mundial. Ela leciona no terceiro ano, e enfrenta uma turminha que lhe apresenta muitos desafios. Mas com muito afeto e carinho ela consegue se aproximar de seus alunos ajudando-os a superarem os seus problemas, não somente os educacionais, como também os problemas da vida pessoal.

Contrastando com o modelo de docência da professora Helena, existe de outro lado a diretora Olívia. Olívia defende uma linha de educação mais rígida, e nesta linha a disciplina é conseguida através de controle coercitivo, ou seja, através de punições ou de ameças de punições. Por um lado temos então Olívia, representante de um modelo educacional em vias de falência, ou seja, de um modelo educacional que usa a punição ou a ameaça de punição como meio para a obtenção de disciplina. De outro lado temos a professora Helena, representante de um modelo educacional que rompe com o paradigma da autoridade disciplinar, aquele paradigma ao estilo Foucaultiano, que mantém a ordem por meio da vigilância.

Foucault (2006) fala-nos do panóptico, um modelo de prisão que tem no centro uma torre. As selas da prisão ficam dispostas ao redor da torre, de modo que por meio desta a vigilância pode ser mantida com um contingente menor de funcionários. O panóptico é um dispositivo que ajuda a manter a vigilância e o controle através do uso de coerção, através do uso de ameaças de punições, punições que podem ocorrer quando menos se espera. Punições inesperadas e apresentadas em esquemas de reforçamento intermitente ajudam a criar um ambiente bastante hostil.

Foucault (2006) extrapola sua reflexão sobre o panóptico e a lógica das prisões para outras esferas, mencionando, que a cultura da vigilância se faz presente em outras instituições, inclusive nas escolas. Ela não é exclusiva das prisões e forças armadas. A vigilância é um meio para se manter o controle. Nas escolas de padrões arquitetônicos mais antigos podemos ver os traços desta cultura. É comum a existência de um palanque nas salas de aula. Neste palanque o professor mantém-se em um degrau mais alto que seus alunos. Esta é uma forma de demonstrar a posição de poder que o professor ocupa, de demonstrar que não pode existir aproximações entre ele e seus alunos, que ele é a fonte do saber, e os alunos devem receber esse saber passivamente.

A diretora Olívia é produto deste tipo de concepção educacional, ela e muitos professores que ainda usam o controle coercitivo como forma de manterem a disciplina, e mal sabem estes professores que coerção gera comportamentos emocionais que interferem na aprendizagem. Pobres coitados, precisam rever seus conceitos. Já a professora Helena é a legítima representante de um modelo educacional que rompe com a distância estabelecida entre professores e alunos.

Helena estabelece com seus alunos relações bastante reforçadoras. Ela traz para estas relações o componente da afetividade, componente banido pelo paradigma educacional que defende o uso da coerção como meio para a obtenção de disciplina. Quem disse que não pode existir afeto na relação entre professores e alunos? Não existem relações humanas desprovidas de afetividade. Sempre que nos comportamos estamos sentindo alguma coisa. O sentir é componente essencial do comportar-se, e é ele mesmo um comportamento.

Quando tentamos reprimir nossa afetividade, nossos comportamentos emocionais, desta repressão surgem outros produtos emocionais bastante nocivos: ansiedade, medo, raiva, tristeza etc. Relações perpassadas por ansiedade, medo, raiva, tristeza, tendem a se tornarem insípidas, ou seja, tendem a se tornarem pouco saborosas ou sem nenhum sabor. Se tornam relações bastante rígidas. Relações assim se transformam em uma potencial fonte de estímulos aversivos que provocam comportamentos de fuga e esquiva. Tais comportamentos se fazem notar pela evasão escolar, depredação do patrimônio escolar, notas baixas, pouco envolvimento em tarefas escolares etc.

A professora Helena mostra-nos que é possível resgatar a afetividade nas relações entre alunos e professores. Ela ensina que estas relações podem ser reforçadoras e que o professor pode usar o reforço positivo em seu benefício, ou seja, que ele pode usar o reforço positivo para reforçar comportamentos mais produtivos por parte dos seus alunos. Contudo, é necessário ter o cuidado para não apresentar reforços positivos contingentes a comportamentos improdutivos, comportamentos problemáticos.

Não é o uso indiscriminado de reforçamento positivo que vai transformar o sistema educacional. Reforço positivo pode fortalecer comportamentos geradores de problemas. Esta talvez seja uma das questões a se levantar com relação a Professora Helena. Ela age de modo bastante afetivo. Mas vale questionar: ela discrimina bem os comportamentos que reforça, ou seja, ela usa reforço positivo contingente a comportamentos mais produtivos por parte de seus alunos?

A professora Helena mostra-se sempre muito preocupada com os problemas pessoais de seus alunos. Ela se desdobra para resolver estes problemas. É preciso cuidado! Existem as diferentes especialidades e elas devem ser respeitadas. Nenhum professor deve achar que é um profissional da psicologia. Problemas comportamentais são fenômenos da alçada dos psicólogos(as)! Professores que agem como se fossem profissionais da psicologia contribuem e muito para a patologização de problemas do cotidiano escolar, o que acaba abrindo precedente para uma medicalização desnessária destes problemas. E dá-lhe ritalina para tantos transtornos de déficit de atenção e hiperatividade! A indústria farmacêutica agradece!

E você, o que achou deste artigo? Opine deixando sua observação no campo de comentários.

Curso online de Psicologia Escolar

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Referências:

FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. 31 ed. Petrópolis (RJ), Ed. Vozes, 2006.


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sábado, 16 de fevereiro de 2013

Autoridade

Por: Pedro Sampaio.
Todos nós tendemos a confiar mais em algumas pessoas do que em outras. Temos amigos aos quais fazemos confidências que não faríamos a nenhuma outra pessoa; temos grupos nos quais confiamos para falar sobre determinados assuntos mas não sobre outros; conhecemos pessoas das quais aceitamos alegremente conselhos sobre qual o melhor carro para comprarmos, mas jamais sobre relacionamentos; e por aí vai. 
Geralmente essa confiança é conquistada ao longo do tempo. A pessoa nos dá mostras de podermos confiar nela ou então mostras de que não podemos. Em alguns casos, essa confiança nem é adquirida ao longo do tempo, como, por exemplo, quando alguém em quem confiamos nos indica que Fulano sabe muito sobre carros e deveríamos aceitar seu conselho a respeito. E há ainda aqueles em quem confiamos não por nossa experiência, nem devido à indicação de várias pessoas ou de uma pessoa de confiança, mas porque ocupam posições de autoridade.
 
Assim, quando aparece uma mancha estranha na nossa pele, geralmente preferimos a opinião de um médico, diplomado e especializado em manchas na pele, à opinião de um estranho na rua.

Isso é absolutamente natural, e fazemos bem de nos comportarmos desta forma. Tendemos a confiar no médico, porque o tal médico, com diploma e doutorado sobre manchas na pele, provavelmente não teria conseguido ser uma autoridade no assunto se não tivesse estudado muito sobre o tema, se não conhecesse mais sobre isso do que a maioria das pessoas e se não tivesse tido um bom desempenho quando o assunto são manchas na pele. É bastante provável que a opinião dele seja mais correta que a minha ou a de um estranho qualquer na rua.

O médico é um bom exemplo, mas nem de perto apenas médicos estão em uma posição de autoridade. A quem tomamos como autoridade varia bastante de pessoa para pessoa, mas outros exemplos comuns de autoridades são os pais, padres, pastores, cientistas, professores, dentre outros.

Embora por um lado façamos bem em confiarmos em autoridades, há um perigoso efeito colateral nisso, tão perigoso a ponto de ser um dos maiores problemas na produção de conhecimento atualmente: tomam-se afirmações de autoridades como sinônimos de verdades, ao invés de se ter a preocupação de analisar a veracidade de afirmações. Autoridades, independentemente da posição que ocupam, não têm poderes especiais que as demais pessoas não tenham e suas afirmações não são, por si mesmas, mais verdadeiras por serem autoridades. No entanto, infelizmente, frequentemente são tratadas desta forma.

Assim, por mais contra-intuitivo que isso possa ser, uma idéia de Freud não tem, por si só,  mais valor do que a de um mendigo, nem as de Einstein mais valor do que as de um estudante do ensino médio. O que deve ser analisado é qual o fundamento daquela idéia e quais motivos temos para concordar com ela. O fato de alguém ser uma reconhecida autoridade não elimina a possibilidade de que esteja redondamente enganado.

Uma das coisas que mais me incomodavam na Psicanálise, mesmo quando eu ainda me orientava por ela, é o fato de quase nunca trazerem evidências para suas afirmações. Em quase a totalidade dos casos, psicanalistas recorriam à autoridade (geralmente de Freud, às vezes de Lacan – e este último recorria à autoridade do primeiro), ao invés de trazerem razões para que eu concordasse com eles. Da mesma forma, rejeitavam idéias e colocações de colegas psicanalistas baseados na mesma autoridade: nada poderia ser mais destruidor para a idéia de um psicanalista do que ouvir um colega apontar que Freud pensava diferente ou que Lacan disse que não é assim que aquilo funciona.

Mas, a não ser que estejamos debatendo o que Freud disse (o que tem uma pertinência pequena, apenas de curiosidade histórica), o fato de Freud endossar uma idéia não quer dizer absolutamente nada. Entretanto, a maioria parece não estar ciente deste fato. E elevar a autoridade a critério de verdade é cometer suicídio intelectual.

Ironicamente, o próprio Freud atacou sistematicamente essa prática, de apelo à autoridade. Preocupou-se bastante com psicanalistas que tomavam suas afirmações como verdades e igualmente criticou duramente outras idéias que se apoiavam mais na autoridade do que nos fatos. Por exemplo, ao falar sobre o marxismo, disse:

O marxismo teórico, tal como foi concebido no bolchevismo russo, adquiriu a energia e o caráter auto-suficiente de uma Weltanschauung; contudo, adquiriu, ao mesmo tempo, uma sinistra semelhança com aquilo contra o que está lutando. Embora sendo originalmente uma parcela da ciência, e construído, em sua implementação, sobre a ciência e a tecnologia, criou uma proibição para o pensamento que é exatamente tão intolerante como o era a religião, no passado. Qualquer exame crítico do marxismo está proibido, dúvidas referentes à sua correção são punidas, do mesmo modo que uma heresia, em outras épocas, era punida pela Igreja Católica. Os escritos de Marx assumiram o lugar da Bíblia e do Alcorão, como fonte de revelação, embora não parecessem estar mais isentos de contradições e obscuridades do que esses antigos livros sagrados.” (FREUD, 1933, p.218)

É de fato uma triste ironia que exatamente o mesmo possa ser dito hoje a respeito da Psicanálise.

Mas esta questão vai muito além da Psicanálise e da Psicologia. De modo geral, alunos não são incentivados a pensar criticamente e a questionar autoridades. Pelo contrário, são ensinados a reproduzir o que os professores dizem. Em casa, os pais também tendem a educar seus filhos de modo que eles sejam obedientes e questionem o mínimo possível sua autoridade. Nas universidades é comum que os alunos simplesmente aceitem o que é dito por um professor por este emanar autoridade, segurança, eloqüência, enfim, porque admiram atributos deste professor. Mas isso nada tem a ver com a veracidade de suas afirmações.

Não aceitar argumentos apenas porque vieram de autoridades talvez seja uma das lições mais importantes a se disseminar. Se recorrer à autoridade pode ter sua funcionalidade – como expus no princípio deste texto – apenas um senso crítico implacável poderá evitar que fiquemos a mercê delas.



Fonte: Pedro Sampaio: A Vida, o Universo e Tudo Mais.

Referência;

Conferência XXXV: A Questão de Uma Weltanschauung,1933 In: FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Volume XXII. Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1976
 
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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Ciência ou publicidade?: o que realmente se faz nos bastidores acadêmicos

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Por vezes fico pensando se o discurso científico, que deveria ser um discurso que nos permite compreender e manipular com maior destreza certas parcelas da realidade, não está mais próximo do discurso midiático do que do discurso em que variáveis dependentes e indenpedentes estão de tal modo relacionadas, que seria possível prever com certo grau de exatidão o comportamento dos fenômenos estudados.  Essa é a função da ciência, ou seja, de produzir um saber que seja útil, um saber que torne mais fácil a vida do Homem, um saber que potencialize as chances da espécie humana continuar habitando a superfície do planeta.

Sendo assim, a ciência é pragmática em sua essência. O saber que ela produz não é apenas estético, ou seja, não é apenas algo para ser contemplado como um quadro que na parede torna o ambiente mais aprazível. Essa é a função das artes, de tornar mais aprazível a vida humana. Não necessariamente as artes têm por função gerar ferramentas que ajudem-nos a resolver problemas ordinários da vida cotidiana. Já a ciência deve e pode gerar meios através dos quais podemos nos livrar dos nossos problemas ou ao menos minimizá-los.

A ciência não é um quadro na parede para ser admirado! Não é um perfume que acalenta as narinas dos amantes. Mas ela pode ajudar a desenvolver técnicas que levem à produção de tintas e pincéis que tornem o pintar mais efetivo. Na idade média os pintores produziam suas próprias tintas, e muitas vezes elas eram tóxicas, pois continham grandes quantidades de chumbo e outro elementos nocivos à saúde. Este problema foi contornado com o desenvolvimento da química, que estudando a forma como os elementos se agrupam pôde produzir tintas com cores mais vívidas e que não agridem a saúde. Da mesma forma a ciência pode e tem ajudado no desenvolvimento de perfumes com maior poder de sedução. Ainda assim, a essência da ciência não é a estética.

A ciência se destaca por sua utilidade, por seu pragmatismo, por sua capacidade de produzir um saber que permite-nos intervir na realidade e transformá-la de tal modo que a vida humana acaba se tornando ergonomicamente mais adaptada aos espaços ocupados pelo Homem. Os espaços se adaptam ao Homem, como o Homem também se adapta aos espaços. Se compararmos um veículo produzido agora com um veículo produzido há três décadas atrás, os veículos produzidos no presente são muito mais seguros. Bancos se ajustam à coluna, volantes têm o tamanho ideal para que os músculos dos braços não sejam forçados, os cintos de segurança são mais eficientes, os motores e escapamentos produzem menos ruído e poluição, etc.

Os exemplos acimam atestam a essência pragmática do saber científico, mas tal essência parece incomodar muita gente. Basta dizer que a ciência é pragmática que os nervos de muitos se afloram, e isso ocorre principalmente nos bastidores das ciências sociais e humanas. Defender a pragmaticidade da ciência é tomado como uma defesa dos ideais norte-americanos. Então, circula com muita liberdade nos bastidores acadêmicos um anti-americanismo improdutivo, para não dizer tolo.

Associado ao anti-americanismo está a ideia de que tudo que vem da américa do norte é positivista e desumano. Se o que vem da américa do norte é positivista, então deve ser descartado, pois o positivismo equipara o fazer científico à produção de dados quantificáveis. Qual é o problema com a quantificação? O que é numérico não pode ser científico? Muito me admira ver cientistas sociais tendo aversão aos números. Não é de se espantar que o planejamento de políticas públicas no Brasil seja algo tão deficiente, pois números importantes sobre a realidade social são ignorados, ignorados por cientistas sociais que participam da elaboração destas políticas. Constroem políticas ao sabor da interpretação e não da constatação! A consequência disso é o desperdício de recursos públicos injetados nestas políticas, mas isso é assunto para outro post.

Tudo bem que a ciência não deva ser reduzida à quantificação. No entanto, ignorar a quantificação simplesmente porque ela pode representar um retorno ao positivismo é uma grande tolice! Ademais, os propagadores do anti-americanismo deveriam definir com maior exatidão o que entendem por positivismo, pois tal matriz filosófica tem diferentes matizes, algumas que entendem o fazer científico de modo bastante reducionista, outras nem tanto. Mas o discurso anti-americanista é de tal forma rebuscado que é convincente! Convence porque quem o escuta não o entende, o que é muito triste, pois dá a entender que produzir ciência é falar difícil.

Porque o discurso rebuscado é atraente, quem o ouve acaba reproduzindo-o. São papagaios que repetem sem saber porque estão repetindo. Então, a academia brasileira foi transformada num lugar para adestrar papagaios, e não num lugar para produzir cabeças pensantes que sejam capazes de questionar o discurso rebuscado e publicitário dos anti-americanistas. O que se faz nos bastidores da academia está mais próximo da publicidade do que da ciência. Basta ser capaz de construir um discurso edificado sobre palavras incompreensíveis que se é elevado à categoria de cientista.

Mas a questão que fica é a seguinte: os papagaios serão capazes de analisarem a realidade e construírem instrumentos para nela intervir e modificá-la, ou vão apenas reproduzirem o discurso incompreensível e rebuscado que aprenderam na academia? É o fazer que transforma o mundo e não a reprodução sem sentido de discursos incompreensíveis. Nunca é demais lembrar que as contingências de reforço do mercado de trabalho acabam selecionando quem é capaz de fazer e agir e não somente quem fala e é incapaz de colocar em prática um conhecimento que ao invés de ser pragmático é contemplado apenas em sua dimensão estética.

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Análise do Comportamento de Blogar e Algumas Dicas para Blogueiros Iniciantes (Primeira Parte)

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Entendo como comportamento de blogar todos os comportamentos envolvidos na criação e manutenção de um blog. Também faz parte desta classe de comportamentos aqueles comportamentos de acompanhar as atualizações de determinados blogs e interagir com os proprietários dos mesmos (blogueiros). O que é um blog? Um blog é um espaço na internet que de maneira simples permite o registro de textos que podem tratar de variados assuntos a gosto do blogueiro que o criou. Há diversos tipos de blogs: científicos, de poesias, políticos, para divulgação de produtos, etc. Sendo assim, um blog tende a dirigir-se a um público específico, e é com esse público que o blogueiro costuma manter relações. A recíproca também é verdadeira, ou seja, os seguidores de um blog geralmente mantêm com o blogueiro algum tipo de relação.

O que interessa saber é que estas relações criam contingências de reforço que reforçam comportamentos de ambas as partes. Um blogueiro só cria um blog com a intenção de atingir um determinado público. Na internet há públicos para todos os gostos, mas é preciso saber como atingir cada público em particular. As informações que um blogueiro disponibiliza em um blog produzem contingências de reforço que afetam os seus leitores. Da mesma forma, quando os leitores fornecem ao blogueiro algum feedback, seja através dos espaços para comentários, ou através de outros contatos, esse feedback contribui para reforçar os comportamentos do blogueiro, ou produzem estímulos discriminativos que sinalizam para mudanças que precisam ocorrer para que o blog possa cumprir sua missão.

Como na vida real o mundo virtual não está livre das leis que regem o comportamento humano. Operações de reforçamento também são estabelecidas na web. Saber criar contingências de reforço que afetem o público-alvo de um determinado blog é uma forma de cativar este público e fazer com que o mesmo volte a visitá-lo e também o divulgue em outros círculos que o blog dificilmente atingiria de forma direta. Portanto, seguem algumas dicas que podem ajudar a criar estas contingências.

1 - Cuide do Visual do Seu Blog

Imagine a seguinte situação: você é convidado para visitar a casa de um amigo que acabou de conhecer. Quando chega em sua casa encontra roupas e sapatos jogados para todos os lados. Encontra talheres e panelas sujas empilhadas na pia da cozinha. Ao entrar no banheiro percebe que o cesto de roupas sujas está transbordando. Qual será a sua impressão? Provavelmente a impressão não será muito boa, e a mesma  será acompanhada de um sentimento de repulsa, de uma vontade de sair correndo daquele lugar (comportamento de fuga).

O mesmo pode acontecer com um blog. Por isso o visual deve ser algo que preocupe um blogueiro. É muito comum navegarmos na internet e encontrarmos blogs em que imagens vão além dos limites disponíveis para as postagens de textos ou para a distribuição de gadgets. Gadgets são aqueles dispositivos que ficam nas colunas laterais dos blogs. Nestas colunas é comum encontrarmos os seguidores, um tradutor, contador de visitantes, menu de últimas postagens, menu de postagens populares, etc. Também é comum encontrar imagens publicitárias. Em blogs em que não existe cuidado com o visual há um excesso destas imagens e muitas vezes elas costumam transpor os limites das colunas, o que visualmente causa uma péssima impressão.

O visual do blog pode ser atrativo ou repulsivo. Pode estabelecer contingências de reforçamento positivo ou negativo, por isso todo cuidado com esse quesito é essencial. Outra coisa importante é que o visual conta muito na hora do carregamento da página. Uma página que demora a carregar tende a afastar visitantes. Não queremos os visitantes longe de nossos blogs, ao contrário, queremos que eles conheçam nosso trabalho.Você pode minimizar este problema usando o recurso de apresentar apenas resumos de suas postagens na página inicial do blog. Se você não sabe fazer isso clique aqui. Existe ainda a opção de diminuir o número de postagens na página principal. Veja a imagem abaixo:




Vá em "configurações" e depois clique em "postagens e comentários". Em seguida vá até "Mostrar no Máximo". Neste campo você escolhe quantas postagens vão aparecer na página principal do blog. Essas configurações são válidas para a plataforma blogger. Vejam que no Café com Ciência aparecem 11 postagens. Mas como uso o recurso do resumo de postagens, na verdade só aparecem o resumo dos textos que posto com sua foto principal. A vantagem de utilizar este recurso é que ele apresenta apenas parte do texto, se o leitor quiser continuar a leitura deve clicar em "Leia mais". Dessa forma é possível manter o leitor mais tempo no blog e aumentar as chances de que ele tenha contato com textos completos, como também aumentar as chances de visitar outras páginas do blog.

2 - Cuide do Conteúdo do Seu Blog

Pessoas visitam blogs não somente por causa da estética. Estética (visual) é importante, mas não é tudo, não é o principal fator que atrai pessoas para um blog. Conteúdo é o principal fator. Cuide do conteúdo do seu blog. Procure produzir conteúdos originais. É muito comum encontrarmos na blogosfera muitos blogs que são cópias uns dos outros. É bom lembrar que plágio é crime!!! Produza seu próprio conteúdo.

Mas você deve estar se perguntando: sobre o que devo escrever? Há uma infinitude de assuntos sobre o qual se pode falar. Todavia, é recomendável que um blogueiro fale sobre algo que tem algum domínio, assim aumenta as chances de produzir conteúdo original, de produzir algo que não pode ser encontrado em outros blogs. Se um visitante encontra em um blog algo que não consegue encontrar em outro que trata dos mesmos temas, é mais do que esperado que ele passe a seguir o primeiro blog. Conteúdo não encontrável em outros blogs é altamente reforçador!

A opção do Café com Ciência é produzir conteúdos sobre Análise do Comportamento e Behaviorismo Radical. Há diversos blogs que tratam do mesmo tema. O diferencial do Café com Ciência é produzir textos em uma linguagem bastante acessível, textos que evitem o excesso de jargão técnico, algo que pode ser aversivo aos neófitos, aos que não dominam a Análise do Comportamento e seus principais conceitos. O Café com Ciência não é melhor que os outros blogs que tratam da mesma temática, mas tem uma forma diferente de apresentá-la. Aliás, o Café com Ciência é parceiro destes outros blogs, pois estas parcerias só enriquecem o trabalho de um blogueiro.

3 - Cuide Bem dos Parceiros do Seu Blog

Os parceiros são aqueles sites ou blogs que geralmente tratam da mesma temática. São importantes meios através do qual um blogueiro pode divulgar o seu trabalho. Os parceiros costumam indicar o trabalho de um blogueiro para outros blogueiros e outros círculos de pessoas que originalmente o blog dificilmente atingiria. Estabalecer com os parceiros do seu blog uma relação amistosa é fundamental para o seu sucesso!

Mas não precisamos nos limitarmos a estabelecermos parcerias apenas com blogs e sites que tratam da mesma temática. Outros parceiros de outros nichos também podem ajudar na divulgação. O importante é ter cuidado para não estabelecer parcerias com sites e blogs que tenham conteúdos ilegais, pois isso pode associar a imagem destes blogs ao seu. Essa associação poderia tornar seu blog aversivo. É tudo uma questão de contingências de reforço. Estímulos aversivos associados a estímulos previamente neutros, faz com que estes últimos também se tornem aversivos.

Reseve em seu blog um espaço para divulgar o trabalho dos seus parceiros, pois certamente eles farão o mesmo por você. Diferente de websites é sabido que um blog não tem muito espaço. A opção para economizar espaço é através da criação de banners rotativos. Clique aqui e seja direcionado para um blog que ensina como fazer esse tipo de banner. Mas talvez você nem tenha criado ainda um banner para seu blog. Então, clique aqui para aprender como fazer isso. Ao clicar você será direcionado para o blog do "Gerenciando Blogs". Considero esse um dos melhores blogs para se aprender como gerenciar um blog.

Um banner é uma forma prática para divulgação de seu blog, e através dele você pode estabelecer boas parcerias de maneira bastante simplificada. Além do mais, um banner é um estímulo visual que tem grandes chances de chamar a atenção de leitores, e quando bem alojados nas páginas dos parceiros, podem ter um efeito muito interessante sobre o fluxo de visitantes do seu blog. Divulgue os banners de seus parceiros, pois esta é a melhor forma de reforçar os comportamentos que mantém a relação deles com você.

4 - Cuide Bem dos Visitantes do Seu Blog

Entre os visitantes estão aqueles que acessam o blog pela primeira vez ou os que já visitaram anteriormente e volta e meia retornam para novas visitas. Cuidar bem dos visitantes é uma forma de aumentar as chances de que retornem ao blog. Seguindo os passos citados acima você já está fazendo isso. Todavia, seguir esses passos não é suficiente. É necessário que você se dedique a dar atenção aos seus visitantes.

A melhor forma de fazer isso é sendo cordial e atendendo às suas solicitações. Geralmente visitantes interagem com um blogueiro através do campo de comentários. Neste campo eles postam o que acharam dos textos que puderam ler no blog. Responder a estas postagens é uma forma de cativar seus visitantes, é uma forma de reforçar o comportamento de visitar o blog. Reforço positivo é sempre bem-vindo!

Arranje um tempo para comentar as postagens de seus visitantes. Se for criar um blog e não tiver esta disposição, então, é melhor nem criar. Não comente por comentar. Comente demonstrando que você foi atencioso ao conteúdo da postagem. Logicamente você não precisa concordar com o que dizem seus visitantes. Mas mesmo na hora de discordar vale a pena a lei da cordialidade, afinal de contas até os visitantes que discordam têm algo a acrescentar. É verdade que nem todos têm algo a acrescentar, mas isso não é motivo para transformar seu blog em um espaço de discórdias.

Seus visitantes poderão sentir que você está sendo atencioso se adicionar em uma das colunas laterais um gadget sobre comentários recentes. Se não sabe como fazer isso clique aqui. Dessa forma os últimos comentários aparecerão na coluna em que o gadget for adicionado. Assim você reforça o comportamento de participação de seus visitantes, como também gera estímulos discriminativos que incentivarão outras pessoas a comentarem nas postagens do seu blog.

Uma forma de facilitar a interação entre visitantes e blogueiros é configurando bem as opções de postagens e comentários. No blogger isso é feito clicando primeiro em "configurações" e depois em "postagens e comentários". Veja a imagem abaixo:

A imagem é um print das configurações que utilizo. A esquerda você verá os campos "Configurações" e "Postagens e Comentários". É onde você deve ir para configurar as opções de comentários a serem postados pelos visitantes. Você tem a opção de moderar os comentários, ou seja, eles só aparecerão em seu blog depois que você autorizar. Não é muito aconselhável. Quem posta num blog espera ver imediatamente seu comentário postado. Reforço positivo contingente ao comportamento de comentar acaba por fortalecer este comportamento. Filtrar comentários dificulta a interação com os visitantes. Eu uso opção nunca moderar comentários e isso vocês podem verificar acima.

Outra configuração que utilizo é deixar os comentários abertos para qualquer um que queira postar, inclusive usuários anônimos. Esta opção desobriga os seus visitantes a terem uma conta compatível com o blogger como o yahoo ou gmail. Mesmo que os visitantes não tenham nenhuma dessas contas poderão comentar no blog. Também não utilizo a verificação de palavras, aquela caixinha com letras e números para as pessoas digitarem antes de postarem, pois isso tende a desistimular o visitante a postar. E ultimamente as letras estão cada vez mais difíceis de serem identificadas.

Logicamente que estas configurações podem gerar inconvenientes. Você estará sujeito a ter que enfrentar comentários que pouco contribuem para o blog. Você pode entrar na onda dos trolls ou ignorá-los, ou seja, reforçar seus comportamentos ou extingui-los. Só não transforme seu blog num campo de guerra. Escolha as configurações que gerem menos aborrecimentos e que mais se adaptem ao seu blog. O importante é facilitar a vida dos visitantes.

5 - Conclusão

Cuidar de um blog não é fácil, mas pode ser muito gratificante. Um blog pode ser um interessante meio para a divulgação de informações que sejam úteis para uma parcela significativa de usuários da internet. Neste texto você encontrou algumas dicas de como influencar os comportamentos dos visitantes de um blog à luz da Análise do Comportamento. Existem outras dicas, mas vamos parar por aqui. Deixemos essas outras dicas para outros posts que darão continuidade a este texto.

Espero que o leitor possa fazer bom proveito das dicas!

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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Ditados populares: uma análise comportamental

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Ditados populares são expressões de uso comum em uma dada população. São usados para fazer referência a modos de agir que quando evitados ou promovidos acarretam em determinadas consequências. Portanto, servem como sinalizadores de consequências, como descrições de contingências de reforço. Como descrições de contingências de reforço podem dizer muito sobre uma determinada cultura e sobre os modos de agir de um povo, afinal de contas uma cultura é um conjunto de contingências de reforços que agem umas sobre as outras e determinam a maneira como grupos de pessoas se comportam. Se os ditados populares sobrevivem como práticas culturais, é sinal que descrevem contingências importantes para a sobrevivência da cultura. Abaixo serão transcritos alguns ditados populares e será apresentada uma possível análise que se pode fazer deles.

Quem com ferro fere, com ferro será ferido. Poderíamos dizer assim: quem pune também está sujeito a ser punido. Coerção gera coerção. Coerção é o uso de punição ou a ameaça de uso de punição. Habitualmente pensamos que punição elimina comportamento. Mas não é bem assim que acontece. Punição suprime temporariamente o comportamento punido. Todavia, os efeitos emocionais colaterais gerados pelo uso da punição podem ser devastadores: ansiedade, medo, submissão, tristeza, raiva, etc. Outro efeito é que o punidor se torna uma fonte de punição, algo a ser evitado ou contra-atacado. Então, punicão gera comportamentos de contracontrole, ou seja, comportamentos de atacar a fonte geradora de punição. A temática da punição já foi analisada extensamente em outros posts. Para ter acesso a estes posts clique aqui. Um post em especial eu recomendo aos leitores: "Prisões e punições: algumas reflexões preliminares." Evitar o uso desnecessário de punição é fundamental para que tenhamos relações interpessoais que promovam o bem estar.

Galinha que acompanha pato morre afogada. É lógico que a galinha vai acabar morrendo afogada se acompanhar um pato, pois ela não tem o equipamento biológico (anatomia e fisiologia) de um pato para poder ter o mesmo desempenho na água. O mesmo acontece conosco. Somos todos diferentes uns dos outros. Podemos ter o mesmo equipamento biológico, mas há diferenças abismais entre nós, diferenças determinadas pela herança genética e também pela história de vida. Sobretudo, temos repertórios comportamentais bastante distintos uns dos outros, o que nos torna pessoas únicas. Se alguém for acompanhar um exímio nadador nas corredeiras de um rio pode acabar morrendo afogado, pois não tem em seu repertório comportamentos para saber nadar com destreza em correntezas. A pessoa pode até nadar bem em uma piscina, mas não terá o mesmo desempenho em rios com fortes correntezas. Saber reconhecer tais diferenças pode ser fundamental para a sobrevivência! Reconhecer que somos diferentes uns dos outros pode evitar muitos problemas! Sobretudo, respeitar as diferenças é fundamental para nos relacionarmos bem com o mundo ao nosso entorno.

A fruta proibida é mais apetecida. O que é proibido geralmente parece ter um gostinho especial. O que pode estar por trás da atração sentida pelo proibido são operações de privação. Se alguém está privado de reforçamento sexual, pode acabar buscando esse reforço de diferentes maneiras. Pode se sentir atraído por parceiros que nunca pensou cobiçar. Privação em excesso gera estimulação aversiva. O que puder ser feito para eliminar a estimulação aversiva acabará sendo reforçador. É preciso, então, muito cuidado ao lidarmos com privações, pois seus efeitos podem gerar tendências comportamentais que produzem muitos problemas. Privar nossos parceiros de afeto pode resultar em um esfriamento da relação. Privar nossos filhos de carinho pode resultar em relações pouco amistosas.

A união faz a força. Determinadas contingências de reforço podem ter seu poder maximizado se forem capazes de atingirem mais pessoas num intervalo maior de tempo. Isso pode ser conseguido através do comportamento grupal. O comportamento de um grupo pode ser muito mais efetivo do que o comportamento de pessoas agindo individualmente. Imagine pessoas se mobilizando para combater a pedofilia. A campanha vai ter mais resultados quanto mais ela for divulgada. Quanto mais pessoas contribuírem na divulgação, maiores são as chances de outras pessoas serem sensibilizadas. Quanto mais pessoas envolvidas na divulgação, maior é a probabilidade de que a campanha se mantenha nos meios de comunicação por mais tempo. Isso nos faz lembrar que podemos e devemos contar com os outros, pois não temos a capacidade de fazermos tudo sozinhos!

A ignorância é a mãe de todas as doenças. Alguém pouco consciente das consequências de seus comportamentos está mais sujeito a aborrecimentos. Certamente está mais sujeito a envolver-se com problemas que podem acarretar em prejuízos para a saúde. Tomar consciência das contingências de reforço que movem nossos comportamentos pode ter como resultado uma vida mais saudável. Dessa forma, poderemos manipular as contingências e diminuir a probabilidade de comportamentos que produzem problemas e aumentar a probabilidade de comportamentos que produzem benefícios. Mas a consciência, que é comportamento descritivo, só surge quando a comunidade verbal arranja as condições apropriadas. Portanto, estar atento ao que os outros nos dizem ou aos seus questionamentos, é fundamental para termos mais consciência acerca de nós mesmos.

Não vamos aumentar demasiadamente nossa lista de ditados. Os que foram apresentados são suficientes, pois são capazes de demonstrar que os ditados populares podem nos fornecer pistas importantes sobre as contingências de reforço em vigor em uma determinada cultura. Os ditados podem fornecer pistas importantes sobre como as pessoas pensam, agem e sentem. E por serem importantes eles têm sobrevivido enquanto práticas culturais. Analisá-los pode nos ajudar a entender determinadas práticas culturais comuns em uma dada cultura.

E você, usa muitos ditados populares? Cite nos comentários algum ditado que você conheça e apresente sua análise a respeito.

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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Educação para o mundo virtual: discutindo o papel da escola

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

O mundo está em constate transformações. A certeza que temos hoje é que o mundo tal como o conhecemos agora não será mais o mesmo amanhã, e não há nenhum exagero em pensar assim, pois a todo instante estão ocorrendo eventos que têm o potencial de mudar para sempre o curso da história. E o mais impressionante é a velocidade com que estes eventos são divulgados. Tudo isso graças a algo que conhecemos como internet.

A internet foi uma das mais fabulosas inovações tecnológicas criada pelo bicho Homem. Ela agilizou as comunicações e aproximou pessoas. Ela transformou negócios e criou novos nichos de mercado. Criou meios para divulgação do conhecimento que eram inimagináveis há algumas décadas. Hoje é possível estar a par das principais descobertas científicas apenas com alguns poucos cliques. A internet criou a possibilidade das escolas virtuais e do ensino a distância. Ela aproximou cientistas, aproximação que acelera o processo de produção de conhecimento científico. E contribuindo na divulgação deste conhecimento ela acaba favorecendo a democracia, pois o princípio mais básico dos regimes democráticos é o acesso à informação.

Portanto, a internet é um instrumento formidável! Mas... Sim, sempre existe um "mas"! Duas questões precisam ser pensadas: a forma de se utilizar esse incrível instrumento que é a internet e as consequências de sua utilização sobre o comportamento das pessoas. Começemos pela primeira questão: as pessoas sabem utilizar a internet?

A julgar pela forma como as redes sociais são utilizadas, é temoroso afirmar que sabemos usar a internet e todo o potencial comunicativo que elas nos oferece. Redes sociais na maior parte do tempo são utilizadas para o compartilhamento daquelas entendiantes correntes de ajuda, daquelas correntes que apelam para o coração bondoso das pessoas solicitando doações de cinco centavos para o compartilhamento de fotos de pessoas doentes. Escrevi sobre isso recentemente no artigo intitulado "Redes Sociais e Correntes de Ajuda: uma análise comportamental."

Levantei naquela ocasião a hipótese de que este comportamento das pessoas na internet tem relação com nosso sistema educacional. Gostaria neste texto de desenvolver melhor este raciocínio. Nosso sistema educacional não tem acompanhado na mesma velocidade as inovações tecnológicas que ocorrem no seio da sociedade. Pelo menos no que se refere ao ensino público isso pode ser considerado uma verdade. Mas mesmo no ensino privado não vamos encontrar em todas as escolas aulas de informática e laboratórios de computadores.

Muitas escolas da rede privada já dispõem de inúmeras tecnologias. Em várias é possível encontrar o uso de tablets e notebooks em sala de aula em substituição ao tradicional caderno. Nestas escolas cadernos estão se transformando em peças de museu, sim aquele objeto com folhas de papel riscadas formando linhas para anotações já  vem sendo descartado. Haverá um tempo em que as pessoas saberão o que é  um caderno?

Na rede pública muitos alunos não sabem o que é um caderno também, mas não porque eles estão sendo substituídos pelas maravilhas tecnológicas do universo da informática, e sim porque comprar um caderno requer sacrifícios que afetam o orçamento familiar. Em muitas escolas públicas carteiras e cadeiras são artigos de luxo. Na maioria delas o quadro negro continua sendo verde, e muitas vezes está em péssimo estado de conservação. Em tantas outras falta giz para se escrever no quadro e os professores acabam improvisando.

Já em algumas se vê iniciativas tímidas para o ensino de informática, mas ainda são excessivamente tímidas. O poder público ainda não se atentou para a urgente necessidade do sistema educacional acompanhar as mudanças que ocorrem no seio da sociedade. Se não houver este acompanhamento a educação de nossas crianças estará sempre defasada, e elas não poderão desenvolver em seus repertórios comportamentos que as capacite para enfrentar as contingências que vão além dos muros escolares.

Mas não basta equipar as escolas com computadores. Isso simplesmente não resolve o problema. Equipar as escolas é uma parte da resolução do problema. Depois de equipadas as escolas precisam rever seus currículos. Não adianta ter computadores com acesso à internet se os currículos escolares não criam contingências de reforço que venham a modelar comportamentos de como se comportar no mundo virtual. E a reforma dos currículos escolares é uma questão a ser enfrentada tanto pelo ensino público quanto pelo ensino privado.

Não estou querendo ser antiguado e defender que as escolas devam ensinar regras de etiqueta sobre como se comportar no universo infinito da web. Etiqueta não é o termo mais adequado. Mas as escolas devem ensinar não somente como abrir e fechar um navegador. Elas também devem ensinar o aluno a analisar as consequências que seu comportamento na internet pode produzir. Se isso for feito as redes sociais existentes na web poderão ser utilizadas para promover a expansão de contatos sociais e não simplesmente para o compartilhamento inconsequente de correntes de ajuda ou posts de disseminação de preconceitos.

E a expansão de contatos sociais não pode ser simplesmente uma questão de números, mas sobretudo uma questão de qualidade. Pessoas adicionam umas as outras em redes sociais para produzir números. Mas e a qualidade das relações? As relações permanecem na superficialidade, evitando-se, assim, contatos que afetivamente poderiam ser mais produtivos. A consequência disso é que a afetividade passa a ser vista como algo aversivo, como algo a ser evitado, pois pode causar problemas. Vejam aí o reforçamento negativo! A afetividade vai se associando ao controle aversivo, e assim a vida afetiva vai sendo encarada como fonte de problemas.

E aqui paramos um pouco para pensar nas consequências desta maravilhosa inovação tecnológica que é a internet sobre os comportamentos individuais e até mesmo coletivos. Será que a internet não tem transformado contatos sociais em números? Um contato é um número numa rede social... Outra questão preocupante: o acesso faciltado a inúmeras fontes de prazer criadas pela internet não tem gerado pessoas socialmente isoladas? Se posso buscar prazer na net, por que haveria de buscá-lo em contatos sociais genuínos?

Na internet impera a lógica da facilidade... Gerou problema se exclui com um clique! E será que essa lógica não vem sendo transposta para a realidade? Ou seja, quando alguém do meu contato social se transforma em fonte de problemas eu simplesmente não ajo de maneira a excluir a pessoa? Aqui não sou eu perguntando para mim mesmo. As perguntas são interlocuções que o leitor pode usar para refletir sobre o seu próprio comportamento.

Portanto, neste novo cenário mundial dominado pelas tecnologias da informação, o sistema educacional tem um papel fundamental, o papel de preparar pessoas para lidar com contingências de reforço que potencializam a possibilidade de reforçamento positivo, reforçamento que acaba sendo contingente a comportamentos improdutivos, como os comportamentos de passar o dia todo na frente de um computador, comportamentos que concorrem com outros comportamentos como o de trabalhar, estudar, namorar, etc. Reforço positivo contingente a comportamentos improdutivos gera a longo prazo uma sociedade formada por pessoas que não sabem lidar com as adversidades, pessoas que não sabem encarar frustrações, pois estão tão acostumadas aos prazeres fáceis produzidos com poucos cliques que acabam recuando diante as dificuldades.

É hora de pensarmos seriamente numa reforma curricular que dê mais espaço para as tecnologias da informação, mas que seja uma reforma que também pense os impactos destas tecnologias sobre o comportamento das pessoas e que as eduque para utilizá-las de maneira produtiva.

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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Teologia da Prosperidade: contingências que conquistam fiéis

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

O que motiva a confecção deste texto é algo que me aconteceu por esses dias. Vasculhando a TV em busca de um programa assistível, deparei-me com algo bastante curioso, para não dizer temeroso. É sabido que cada vez mais as igrejas de um modo geral têm aderido aos meios de comunicação de massa, pois estes meios são bastante eficazes na conquista de novos fiéis. Mas para que a conquista possa de fato ocorrer, o produto ofertado ao telespectador deve ser bastante atraente. Em outras palavras, o produto deve ser bastante reforçador!

Ao vasculhar a TV parei em um destes programas evangélicos. Advinhem quem estava pregando? O pastor proprietário de uma das maiores redes de televisão do país. Isso mesmo, o "Bispo" Edir Macedo. Me chamou a atenção a pregação utilizada pelo Sr. Edir, digo senhor porque ele já é um homem maduro, um homem de idade razoavelmente avançada, e que por isso merece o meu respeito. Aprendi com meus pais que devemos respeitar as pessoas mais maduras, por isso ao Sr. Edir o meu respeito.

Respeito-o por seus cabelos brancos, mas me causa estranhamento a estratégia utilizada na captação de novos fiéis. Dizia o Sr. Edir que a igreja estava fazendo uma campanha. Num determinado dia o fiel deveria colocar num envelope uma quantia em dinheiro. Junto com o dinheiro devia colocar também a foto de alguém que precisava de uma grande graça de Deus, seja uma graça no âmbito da saúde, ou uma graça no âmbito financeiro. Então nesta lista entram doentes e endividados.

Mas o bispo não parou por aí. Ele foi além, e, sobretudo, foi enfático ao dizer que quanto maior fosse a doação maiores seriam as chances de que a graça fosse alcançada. É a mercantilização da fé sendo utilizada como estratégia para cativar novos fiéis, algo disseminado no Brasil desde a década de 1980 quando chegou em terras tupiniquins a teologia da prosperidade.

O Brasil é um importador de bens materiais e culturais norte-americanos. A teologia da prosperidade é um bem cultural importado. Ela nasce nos EUA no inicio do século XX, e na essência ela diz que ao fiel é reservado o direito à prosperidade. Mas inevitavelmente temos que questionar: prosperidade de quem, dos fiéis ou das igrejas? O que se vê é um crescimento vertiginoso das igrejas que utilizam a teologia da prosperidade como meio para conquistar novos fiéis. O patrimônio destas igrejas já passou da casa dos milhões há décadas. Grandes templos são construídos com uma facilidade inimaginável.

Prosperidade de quem? Certamente o Sr. Edir não pode reclamar de sua conta bancária, ele e tantos outros disseminadores da teologia da prosperidade. Mas por que a teologia da prosperidade enquanto estratégia para cativar novos fiéis acaba funcionando? Porque ela cria poderosas contingências de reforçamento positivo. Se durante muitos anos fiéis iam às igrejas para fugirem do inferno e para ganharem o paraíso, punições e recompensas utilizadas para a manutenção dos comportamentos de ir à igreja e professar os seus ensinamentos, agora eles vão para obterem ainda nesta vida recompensas materiais.

O leitor vai concordar que entre recompensas que podem ser obtidas nesta vida e aquelas que só podem ser desfrutadas num porvir, as obtidas nesta vida são muito mais atraentes, portanto, as igrejas que forem capazes de oferecê-las aumentam exponencialmente sua capacidade de conquistar novos fiéis, e consequentemente aumentam também sua arrecadação do dízimo, engordando, assim, a conta de pastores inescrupulosos.

Recompensas materiais são muito mais fascinantes (reforçadoras) que possíveis recompensas espirituais. Num mundo marcado pela concorrência as igrejas se transformaram em poderosos nichos de mercado. Para vencer a concorrência é necessário oferecer ao fiel (consumidor) um produto agradável (reforçador). Quer um produto mais agradável do que a prosperidade no âmbito da saúde ou das finanças?

As igrejas estão cada vez mais se adaptando à logica do capitalismo. Elas passaram a oferecer recompensas materiais, recompensas que podem ser desfrutadas ainda em vida, sem que seja necessário esperar por promessas de recompensas espirituais que venham se concretizarem numa outra vida. E o esquema por trás destas promessas de recompensas materiais geralmente é o de razão variável, quando mais o fiel doa, mais ele aumenta as possibilidades de receber.

Agora imaginemos uma situação fictícia. O cara está endividado e precisa resolver seus problemas financeiros. Ele começa a frequentar a igreja e pagar seu dízimo. Vez ou outra, ou vez em sempre participa das campanhas de doar dinheiro para a igreja. Se esse cara anteriormente gastava todo seu orçamento com muita farra, consumindo excessivamente, etc, para conseguir pagar seu dízimo em dia ele começa a abandonar a antiga vida. Ele deixa de farrear e consumir excessivamente. Com isso o dinheiro começa a sobrar todo mês. Sobrando é possível fazer uma economia e conseguir saldar as dívidas. É uma questão de contingências de reforço, ou seja, se o sujeito mudou seus hábitos, inevitavelmente os resultados serão diferentes daqueles obtidos com o estilo de vida que tinha anteriormente.

Mas isso acaba fortalecendo as contingências criadas pela teologia da prosperidade, pois o cara acaba pensando: "quanto mais eu doar, mais eu vou receber". Ora, vejam aí o esquema de reforçamento de razão variável produzindo os seus resultados... O resultado produzido é a regra que passa a governar diversos comportamentos do fiel, a regra da graça que é proporcional à doação. No final a prosperidade é de quem? Das igrejas ou dos fiéis? Fica a pergunta...

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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Um Ano de Café com Ciência

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

O blog Café com Ciência está fazendo um ano. É o momento propício para fazer um balanço de tudo que aconteceu ao longo do primeiro ano de existência do blog. Mas também é o momento propício para agradecer àqueles que têm contribuído para o seu crescimento: os seus leitores. Caríssimo leitor, é graças a você que o Café com Ciência se mantém em funcionamento, portanto, agradecer a sua visita frequente ao blog é justo e merecido.

Até o momento 22.708 pessoas visitaram o blog. São em média 1892 acessos por mês. Nada mal para um blog que tem apenas um ano de existência. Ao logo deste ano muitas matérias foram publicadas. Todas elas giraram em torno de um núcleo comum: o Behaviorismo Radical. O Behaviorismo Radical, cujo criador é B. F. Skinner, é a filosofia da ciência do comportamento, também conhecida como Análise Experimental do Comportamento. A Análise Experimental do Comportamento é um modo de estudar o objeto da Psicologia: o comportamento, um modo que utiliza como amparo metodológico o método experimental.

Ao longo deste ano o leitor que nos acompanha pôde conhecer os principais pressupostos teóricos do Behaviorismo Radical. Pôde entender qual é a proposta do Behaviorismo Radical para a Psicologia, uma proposta que rompe com o paradigma de causalidade mentalista. Este rompimento não significa que seja ignorado o mundo privado do indivíduo. Este mundo existe, mas não se difere do restante do mundo somente porque é privado. Este mundo não é mental por ser privado.

Sendo assim, podemos descobrir ao longo deste ano que o Behaviorismo Radical não ignora a subjetividade. Muitos artigos tiveram a temática da subjetividade como pano de fundo. Em alguns deles ela foi até mais evidente, principalmente quando as emoções foram analisadas sob a ótica do Behaviorismo Radical. Descobrimos que emoção é comportamento, em parte respondente, em outra operante.

Como respondente elas se manifestam por meio de modificações fisiológicas que se passam no organismo, e boa parte destas manifestações ocorrem de modo privado, e isso gera algumas dificuldades para que a comunidade verbal estabeleça contingências para que o indivíduo aprenda a falar de suas emoções. Estas dificuldades foram muito bem exploradas no artigo intitulado "A Difícil Tarefa de Falar de Sentimentos".

Como operantes as emoções estão sujeitas às suas consequências. Isso significa que as expressões emocionais podem ser modeladas, ou seja, que aprendemos a nos emocionarmos de determinada forma por causa das consequências que seguiram nossos comportamentos emocionais no passado. Portanto, a análise das emoções passa pela análise funcional das consequências e contextos em que os comportamentos emocionais ocorrem. Somente desta forma pode ser entendido o significado de cada emoção, de cada forma de expressão emocional. Mas certo é afirmar que as emoções dão pistas importantíssimas sobre as contingências de reforço que podem estar operando na vida de uma pessoa num dado momento.

Outros temas foram abordados ao longo deste ano. Um destes outros temas versou a respeito dos efeitos da punição sobre o comportamento. Muitas vezes pensamos que a punição é o meio mais eficaz de eliminarmos comportamentos, mas este é um grande engano. Além da punição não eliminar comportamentos, ela gera diversos subprodutos emocionais bastante nocivos à saúde. Você pode conferir a coletânea de artigos que trataram deste tema clicando aqui.

Enfim, muitos outros temas foram tratados em 2012. Muitos outros ainda virão. E para 2013 o Café com Ciência pretende lançar voos ainda mais altos. Pretende dialogar com outras áreas do saber e não ficar restrito somente à Psicologia. E uma dessas áreas que muito agrada ao seu autor é a Assistência Social. Esperem em 2013 um flerte entre o Café com Ciência e temas ligados à Assistência Social, afinal de contas a Assistência Social é mais um campo de trabalho aberto ao profissional da Psicologia.

Aguarde, pois muito mais está por vir! E continuem ligados no Café com Ciência, que está de aparência nova para melhorar sua experiência de navegação. E aproveite também para curtir nossa Fanpage no facebook: https://www.facebook.com/BlogCafeComCiencia.

Obrigado pela colaboração!


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