Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.
Neste texto o leitor vai encontrar uma reflexão sobre a questão do controle comportamental. Ao elucidar tal questão, o texto tratará de examinar como a Análise do Comportamento aborda esta temática, e como ela está ligada a possibilidade de existência desta ciência que tem como objeto de seus estudos o comportamento. Inevitavelmente não será possível fugir de uma definição sobre o que é comportamento, pois no fim das contas esta definição fornecerá os parâmetros para esclarecer que o controle comportamental é uma questão de fato e não de escolha, ou seja, querendo ou não nossas condutas continuarão sendo controladas pelo ambiente da mesma forma que o mundo ao nosso entorno é controlado por nós. A própria definição de operante pressupões essa mútua relação de controle estabelecida entre o comportar-se e as modificações introduzidas no ambiente a partir do momento que nos comportamos.
A questão é tão delicada que ao menor sinal de sua menção os ânimos de muitos se exaltam. Como assim controlar o comportamento? Isso representaria a construção de uma sociedade de dominados e dominadores, é o que acreditam os críticos da noção de controle. Como se esta sociedade já não existisse! Os críticos da noção de controle comportamental cofundem o controle intrínseco da conduta humana pelo ambiente com o controle aversivo. Controle aversivo é apenas uma das formas de controle existentes. Uma árvore na floresta para fazer referência a uma metáfora utilizada por Sidman (1995).
De acordo com Sidman (1995) a floresta é a questão do controle comportamental, e uma árvore na floresta é o controle aversivo, ou seja, é o controle por uso de punição ou por ameaça de punição. Não temos a menor dificuldade para lidar com a temática do controle quando o que está sendo discutido é o comportamento de fenômenos físicos. Mas quando falamos de fenômenos comportamentais é inadmissível pensar em controle. Então, a questão é definir o que é controle, elucidar que controle comportamental e controle aversivo são duas questões distintas, e que falar de controle não implica em fazer uso de punição.
Comecemos a difícil tarefa de definir controle comportamental com um exemplo. Há poucos dias um meteorito caiu na Rússia causandos muitos estragos e deixando muitas pessoas feridas. Isso ocorreu porque um meteoro entrou na órbita terrestre e foi atraído por seu campo gravitacional. O campo gravitacional da Terra exerceu controle sobre o meteoro. Quando este passou pela atmosfera acabou se partindo em diversos pedaços, transformando-se, então, em um meteorito. Um meteorito é um fragmento de um meteoro.
Este exemplo é bastante propício para podermos refletir sobre a questão do controle comportamental. O meteoro foi atraído pelo campo gravitacional terrestre. Eis aí uma relação de controle, uma relação de determinação, ou melhor, uma relação de causalidade. O meteoro não entrou na órbita terrestre por acaso. Isso se deu por causa da força da gravidade. A massa da Terra é muito maior do que a do meteoro, portanto, seu poder de atração gravitacional é muito maior. O mesmo ocorre entra a Terra e a Lua, entre a Lua e as Marés e entre a Terra e o Sol.
O movimento de translação da Terra ocorre por causa do campo gravitacional do Sol. O sol controla o movimento da Terra. O movimenta da Lua entorno da Terra segue o mesmo princípio, como também o fenômenos das marés alta e baixa que sobem e descem de acordo com a proximidade da Lua em relação à Terra. Não temos a menor dificuldade para admitir que todos estes fenômenos traduzem relações de controle, e com base nestas relações que podem ser medidas, os atrônomos têm como realizarem predições sobre em que ponto a Terra se encontrará em relação ao Sol daqui a 30 anos, e como as estrelas serão vistas no céu no equinócio de outono no hemisfério norte daqui a 100 anos.
Todos estes exemplos traduzem relações de determinação entre fenômenos físicos. Relações de determinação são o mesmo que relações de causalidade. Em relações de causalidade, relações que se estabelecem quando há dependência entre dois ou mais fenômenos, é possível predizer como estes fenômenos vão se apresentar se for conhecido os comportamentos de cada um deles ou de pelo menos uma parte substancial dos mesmos. Se há relações de dependência, a presença de um fenômeno aumenta as chances de outros acontecerem, pelo menos aqueles que dependem da ocorrência do primeiro.
A condição para um meteorito atingir a superfície da Terra é um meteoro entrar em sua órbita. A condição para que um objeto de metal saia do repouso e comece a se movimentar quando dele for aproximado uma barra de imã, é que haja um imã que possa criar um campo eletromagnético substancial, e que seja criada uma proximidade tal que este campo atinja o objeto de metal. A presença do fenômeno campo eletromagnético altera o comportamento do objeto de metal, eis aí uma relação de dependência em que a presença de um fenômeno altera o funcionamento (comportamento) do outro.
A esta altura já deve ter ficado claro que controle é o mesmo que relações de dependência, relações de causalidade. Com o comportamento humano não é diferente. O comportamento enquanto uma função do organismo, enquanto uma ação empreendida pelo organismo, ação que contribui para sua sobrevivência, estabelece com outros fenômenos, neste caso fenômenos ambientais, relações de dependência. Uma vez que os cientistas se tornam capazes de descreverem estas relações com as chamadas leis científicas, podem, assim, intervirem nestes fenômenos e mudarem suas formas de ocorrência, desde que sejam capazes de fazer com que determinados eventos ocorram de forma a aumentar a probabilidade de ocorrência de outros eventos a eles relacionados, que com que eles tenham uma relação de dependência. O que as leis científicas fazem é descreverem relações de causalidade, nada além disso!.
O que a Análise do Comportamento faz é estudar as relações de dependência entre eventos ambientais e eventos comportamentais. A relação entre reforçamento e o aumento na frequência de um determinado comportamento é uma relação de dependência. Apresentados os reforços apropriados um comportamento pode ser alterado, pode ser controlado de modo que sejam maximizadas as possibilidades de que produza benefícios e diminuam as possibilidades de que produza malefícios. O controle está aí, é uma questão de fato. Ao fugirmos desta questão estamos evadindo da possibilidade de construírmos meios para tornar o mundo em que vivemos um lugar mais habitável, estamos desperdiçando recursos que poderiam ser aplicados na construção de relações mais saudáveis entre pessoas.
Onde quer que existam pessoas se comportando os seus comportamentos estarão sendo controlados por eventos ambientais consequentes (reforçamento) e antecedentes (controle de estímulos). Temos a opção de continuarmos inconscientes a respeito da existência deste controle, ou temos a opção de descrevê-lo e utilizar os meios adequados para que o comportar-se crie condições para que as pessoas se tornem seres humanos melhores. A Análise do Comportamento ao falar do controle não está advogando o uso do controle aversivo. Ao contrário, a Análise do Comportamento é defensora de um mundo livre do controle coercitivo, pois muitos já foram os dados produzidos sobre os efeitos nocivos gerados pelo uso de punições.
É porque existe controle comportamental é que nossa conduta é ordenada e previsível. Se não fosse assim viveríamos num mundo completamente caótico, pois não seríamos capazes de prevermos os resultados de nossas ações. E o que faz a Análise do Comportamento é apenas elucidar o controle comportamental, de modo a ter condições de oferecer à humanidade meios para construção de um mundo melhor, começando pela construção de pessoas melhores. Se já temos as ferramentas para isso, ou seja, para a construção de um mundo melhor, o que estamos fazendo de braços cruzados? É hora de sairmos do obscurantismo medieval e admitirmos que o controle é uma questão de fato, acreditando ou não em sua existência, ele continuará existindo.
E agora, as coisas ficaram mais claras? Opine no campo para comentários!
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REFERÊNCIAS:
SIDMAN, M. Coerção e suas implicações. Campinas (SP): Editorial Psy, 1995.
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Neste texto o leitor vai encontrar uma reflexão sobre a questão do controle comportamental. Ao elucidar tal questão, o texto tratará de examinar como a Análise do Comportamento aborda esta temática, e como ela está ligada a possibilidade de existência desta ciência que tem como objeto de seus estudos o comportamento. Inevitavelmente não será possível fugir de uma definição sobre o que é comportamento, pois no fim das contas esta definição fornecerá os parâmetros para esclarecer que o controle comportamental é uma questão de fato e não de escolha, ou seja, querendo ou não nossas condutas continuarão sendo controladas pelo ambiente da mesma forma que o mundo ao nosso entorno é controlado por nós. A própria definição de operante pressupões essa mútua relação de controle estabelecida entre o comportar-se e as modificações introduzidas no ambiente a partir do momento que nos comportamos.
A questão é tão delicada que ao menor sinal de sua menção os ânimos de muitos se exaltam. Como assim controlar o comportamento? Isso representaria a construção de uma sociedade de dominados e dominadores, é o que acreditam os críticos da noção de controle. Como se esta sociedade já não existisse! Os críticos da noção de controle comportamental cofundem o controle intrínseco da conduta humana pelo ambiente com o controle aversivo. Controle aversivo é apenas uma das formas de controle existentes. Uma árvore na floresta para fazer referência a uma metáfora utilizada por Sidman (1995).
De acordo com Sidman (1995) a floresta é a questão do controle comportamental, e uma árvore na floresta é o controle aversivo, ou seja, é o controle por uso de punição ou por ameaça de punição. Não temos a menor dificuldade para lidar com a temática do controle quando o que está sendo discutido é o comportamento de fenômenos físicos. Mas quando falamos de fenômenos comportamentais é inadmissível pensar em controle. Então, a questão é definir o que é controle, elucidar que controle comportamental e controle aversivo são duas questões distintas, e que falar de controle não implica em fazer uso de punição.
Comecemos a difícil tarefa de definir controle comportamental com um exemplo. Há poucos dias um meteorito caiu na Rússia causandos muitos estragos e deixando muitas pessoas feridas. Isso ocorreu porque um meteoro entrou na órbita terrestre e foi atraído por seu campo gravitacional. O campo gravitacional da Terra exerceu controle sobre o meteoro. Quando este passou pela atmosfera acabou se partindo em diversos pedaços, transformando-se, então, em um meteorito. Um meteorito é um fragmento de um meteoro.
Este exemplo é bastante propício para podermos refletir sobre a questão do controle comportamental. O meteoro foi atraído pelo campo gravitacional terrestre. Eis aí uma relação de controle, uma relação de determinação, ou melhor, uma relação de causalidade. O meteoro não entrou na órbita terrestre por acaso. Isso se deu por causa da força da gravidade. A massa da Terra é muito maior do que a do meteoro, portanto, seu poder de atração gravitacional é muito maior. O mesmo ocorre entra a Terra e a Lua, entre a Lua e as Marés e entre a Terra e o Sol.
O movimento de translação da Terra ocorre por causa do campo gravitacional do Sol. O sol controla o movimento da Terra. O movimenta da Lua entorno da Terra segue o mesmo princípio, como também o fenômenos das marés alta e baixa que sobem e descem de acordo com a proximidade da Lua em relação à Terra. Não temos a menor dificuldade para admitir que todos estes fenômenos traduzem relações de controle, e com base nestas relações que podem ser medidas, os atrônomos têm como realizarem predições sobre em que ponto a Terra se encontrará em relação ao Sol daqui a 30 anos, e como as estrelas serão vistas no céu no equinócio de outono no hemisfério norte daqui a 100 anos.
Todos estes exemplos traduzem relações de determinação entre fenômenos físicos. Relações de determinação são o mesmo que relações de causalidade. Em relações de causalidade, relações que se estabelecem quando há dependência entre dois ou mais fenômenos, é possível predizer como estes fenômenos vão se apresentar se for conhecido os comportamentos de cada um deles ou de pelo menos uma parte substancial dos mesmos. Se há relações de dependência, a presença de um fenômeno aumenta as chances de outros acontecerem, pelo menos aqueles que dependem da ocorrência do primeiro.
A condição para um meteorito atingir a superfície da Terra é um meteoro entrar em sua órbita. A condição para que um objeto de metal saia do repouso e comece a se movimentar quando dele for aproximado uma barra de imã, é que haja um imã que possa criar um campo eletromagnético substancial, e que seja criada uma proximidade tal que este campo atinja o objeto de metal. A presença do fenômeno campo eletromagnético altera o comportamento do objeto de metal, eis aí uma relação de dependência em que a presença de um fenômeno altera o funcionamento (comportamento) do outro.
A esta altura já deve ter ficado claro que controle é o mesmo que relações de dependência, relações de causalidade. Com o comportamento humano não é diferente. O comportamento enquanto uma função do organismo, enquanto uma ação empreendida pelo organismo, ação que contribui para sua sobrevivência, estabelece com outros fenômenos, neste caso fenômenos ambientais, relações de dependência. Uma vez que os cientistas se tornam capazes de descreverem estas relações com as chamadas leis científicas, podem, assim, intervirem nestes fenômenos e mudarem suas formas de ocorrência, desde que sejam capazes de fazer com que determinados eventos ocorram de forma a aumentar a probabilidade de ocorrência de outros eventos a eles relacionados, que com que eles tenham uma relação de dependência. O que as leis científicas fazem é descreverem relações de causalidade, nada além disso!.
O que a Análise do Comportamento faz é estudar as relações de dependência entre eventos ambientais e eventos comportamentais. A relação entre reforçamento e o aumento na frequência de um determinado comportamento é uma relação de dependência. Apresentados os reforços apropriados um comportamento pode ser alterado, pode ser controlado de modo que sejam maximizadas as possibilidades de que produza benefícios e diminuam as possibilidades de que produza malefícios. O controle está aí, é uma questão de fato. Ao fugirmos desta questão estamos evadindo da possibilidade de construírmos meios para tornar o mundo em que vivemos um lugar mais habitável, estamos desperdiçando recursos que poderiam ser aplicados na construção de relações mais saudáveis entre pessoas.
Onde quer que existam pessoas se comportando os seus comportamentos estarão sendo controlados por eventos ambientais consequentes (reforçamento) e antecedentes (controle de estímulos). Temos a opção de continuarmos inconscientes a respeito da existência deste controle, ou temos a opção de descrevê-lo e utilizar os meios adequados para que o comportar-se crie condições para que as pessoas se tornem seres humanos melhores. A Análise do Comportamento ao falar do controle não está advogando o uso do controle aversivo. Ao contrário, a Análise do Comportamento é defensora de um mundo livre do controle coercitivo, pois muitos já foram os dados produzidos sobre os efeitos nocivos gerados pelo uso de punições.
E agora, as coisas ficaram mais claras? Opine no campo para comentários!
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REFERÊNCIAS:
SIDMAN, M. Coerção e suas implicações. Campinas (SP): Editorial Psy, 1995.