terça-feira, 31 de julho de 2012

Pular, pular: se expondo a novas experiências

 

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Se não conseguir assistir o vídeo clique no seguinte link para assisti-lo no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=9n-heE1F5Wo

Se você viu o vídeo acima deve ter percebido como às vezes a vida dá reviravoltas, e estas reviravoltas criam circunstâncias favoráveis para que possamos viver novas experiências, e com a vivência de novas experiências temos a oportunidade de experimentarmos novos sentimentos. Simples assim! Simples como dizer "oi". Não resisti ao jargão de certa operadora de celular! Rsrsrsrs...

O vídeo mostra um cordeiro que muito orgulhoso de sua felpuda lã, já ao raiar do dia começava a sapatear. Com isso chamava a atenção dos bichos que moravam nas circunvizinhanças. Todos ficavam impressionados com o sapateado do cordeiro, e logicamente direcionavam toda sua atenção para ele. Ops, aqui se vê em vigor uma operação de reforçamento positivo. O sapatear tinha como consequência obter atenção dos vizinhos. Quanto mais davam atenção, mais o cordeiro sapateava e mais se sentia orgulhoso.

Isso levou o cordeiro a formular uma regra para descrever as contingências de reforço as quais estava exposto. Falando menos tecnicamente, isso levou o cordeiro a formular uma regra de conduta. Esta regra o fazia entender que o que chamava atenção da bicharada era sua felpuda lã, e sapatear era uma forma de exibir o seu visual, ou seja, para o cordeiro o motivo para continuar sapateando era poder exibir sua lã, tanto é verdade que quando foi tosqueado ele perdeu toda a motivação para sapatear.

Está certo que a lã poderia exercer certo fascínio sobre o comportamento de observar e dar atenção da bicharada, mas este fascínio também era obtido pelo sapatear do cordeiro, tanto é verdade que os bichos imitavam-no e com ele sapateavam. A lã era um elemento a mais, um estímulo que contribuía para que a contingência de reforço fosse potencializada, ou seja, era uma espécie de "plus" que somado ao sapateado tornava a circunstância mais atraente, mas não era ela o elemento mais importante, caso contrário os bichos não imitariam o comportamento de sapatear, ficando apenas a observar a beleza do cordeiro.

O sapatear dos bichos é um indicativo de que o sapatear do cordeiro era o estímulo mais importante da contingência, ou seja, era o elemento mais importante daquela circunstância. Outro indicativo é que posteriormente o cordeiro conseguiu obter a atenção dos bichos com o comportamento de pular aprendido com o "coelho". Depois da aprendizagem do comportamento de pular a lã já não era mais importante, pois o cordeiro aprendeu obter reforço positivo (atenção dos bichos) através do pular, tanto não era importante que o cordeiro não mais se importava em ser tosqueado.

O cordeiro aprendeu a obter a atenção dos que estavam próximos com aquilo que ele era e não com aquilo que aparentava. A aparência ficou em segundo plano. O comportamento de pular se tornou intrinsicamente reforçador, ou seja, transformou-se em uma fonte de prazer, seja pela estimulação sensorial produzida, seja pela capacidade de conseguir atenção. As novas circunstâncias vividas a partir do encontro com o "coelho" geraram uma nova aprendizagem que se transformou em uma nova regra de conduta, e esta pode ser assim traduzida: agora o que importa é ser feliz independente da aparência.

O cordeiro aprendeu que o importante era ser feliz com aquilo que ele sabia fazer, ou seja, que sua felicidade dependia do seu agir no mundo e não de sua aparência. Mas tudo isso só foi possível porque ele foi exposto a novas contingências de reforço, ou em outras palavras, porque ele se permitiu viver novas experiências. Ao viver novas experiências acabou experimentando novos sentimentos que se sobrepuseram àqueles sentimentos gerados quando do primeiro tosqueamento.

O primeiro tosqueamento gerou perda de reforçamento positivo. Com isso o cordeiro fechou-se em si mesmo, ou seja, todos seus comportamentos de extroversão foram submetidos a extinção. Com a extinção surgiram sentimentos como tristeza, angústia etc. Digamos que se analisássemos o comportamento do cordeiro a partir de sua aparência (topografia), não teríamos dificuldades para rotulá-lo como "depressivo". Mas a partir de uma análise funcional descreveríamos os sentimentos vividos pelo cordeiro como consequência do processo de extinção de alguns de seus comportamentos.

Portanto, a história nos deixa uma lição. Que lição é essa? Devemos continuamente nos darmos a oportunidade de vivermos novas experiências. Se quisermos mudar nossos sentimentos, só conseguiremos esta façanha mudando as circunstâncias responsáveis pela ocorrência dos mesmos. O cordeiro teve seus sentimentos mudados porque mudaram também as circunstâncias  responsáveis por estes sentimentos. Sentimentos não são causas de comportamento. Sentimentos são comportamentos também, sendo, portanto, determinados pelas contingências de reforço, e só quando estas se alteram é que os comportamentos se modificam, inclusive os comportamentos emocionais.

Uma outra lição interessante é que nossa felicidade não depende exclusivamente de nossa aparência. O mundo capitalista que vivemos quer nos fazer acreditar nesta verdade para vender cosméticos e outras tantas mercadorias. Há inclusive milhares de pessoas que se tornam reféns dos padrões de beleza estabelecidos pela mídia, dependência que gera contingências de reforço que produzem sofrimento e desajustamentos, desajustamentos que às vezes chegam a extremos como os da Anorexia e Bulimia Nervosa.

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quarta-feira, 25 de julho de 2012

Depressão: que bicho é esse?

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Para você testar o quanto o tema é mais comum do que se imagina, sugiro que faça uma busca no Google usando a palavra "depressão". A busca retornará inúmeras páginas. Desde páginas de laboratórios de fármacos para tratamento da depressão, passando por depoimentos de pessoas que sofreram algum episódio depressivo em suas vidas, até artigos científicos sobre o assunto.

Mesmo entre os artigos científicos não será incomum encontrar diferentes abordagens ao se tratar do tema "depressão". Desde abordagens mais biologizantes, que consideram a depressão um transtorno de humor causado exclusivamente por desequilíbrios bioquímicos, até abordagens mais psicologizantes, que consideram a depressão uma doença relacionada com complexos emocionais mal resolvidos.

Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar. Na determinação de episódios depressivos estão diversas causas. Há causas biológicas, mas estas sozinhas são incapazes de fazerem o episódio se instalar e se manter. Se desequilíbrios bioquimicos podem facilitar a ocorrência de episódios de depressão, estes geralmente só podem ser averiguados quando eventos psicológicos atuam como um gatilho, de modo que se possa hipotetizar sobre sua existência, ou seja, certos eventos psicológicos pelas suas próprias características atuam como fatores que requerem a participação de certas substâncias, substâncias que chamamos neurotransmissores e que agem na transmissão de impulsos nervosos, e na falta destas substâncias o organismo pode não responder adequadamente, produzindo assim estados afetivos comuns aos quadros de depressão.

Trocando em miúdos, a coisa funciona mais ou menos assim. Há certas substâncias que são chamadas neurotransmissores. Estas atuam na transmissão dos impulsos nervosos. Impulsos nervosos são pequenas descargas elétricas que ocorrem no sistema nervoso. O impulso nervoso é a forma através do qual o sistema nervoso se comunica com o restante do corpo. Na ausência de certos neurotransmissores ocorrerão alterações no funcionamento do sistema nervoso, aumentando assim a probabilidade de certas modificações emocionais comumente encontradas nos quadros de depressão.

A medicação é utilizada para reequilibrar estas substâncias chamadas neurotransmissores. No entanto, é bom que se esclareça que jamais a medicação extinguirá os eventos psicológicos responsáveis pelo episódio depressivo. Em outras palavras, a medicação amenizará aquelas alterações emocionais comuns aos quadros depressivos: angústia, ansiedade, tristeza etc. Todavia, a medicação jamais produzirá alterações comportamentais que coloquem um fim nos eventos psicológicos, eventos que podem ter acionado o gatilho bioquímico que produziu o quadro de depressão.


Sendo assim, é recomendável que a pessoa acometida de um quadro depressivo procure tanto acompanhamento psiquiátrico, quanto acompanhamento psicológico. Com o acompanhamento psiquiátrico ela fará uso da medicação correta para lidar com o quadro vivenciado. Já com o acompanhamento psicológico a pessoa terá a oportunidade de efetuar mudanças naqueles comportamentos responsáveis pela manutenção do quadro de depressão, sobretudo, ela aprenderá a identificar as circunstâncias que atuam na determinação destes comportamentos.

Seria muito simplista reduzir as causas da depressão a fatores bioquímicos. Estes são alguns dos fatores, mas não são os únicos. Há muitos eventos comportamentais que podem produzir alterações emocionais como aquelas experimentadas nos quadros de depressão, ou seja, os comportamentos têm consequências, por sua vez estas consequências podem contribuir para a instalação de perturbações emocionais as mais diversas, inclusive as perturbações reunidas sob o rótulo de "depressão".

Desta forma é lícito afirmar que a depressão é um evento comportamental na medida em que está relacionado a modos de agir no mundo, modos que podem produzir alterações emocionais, e por sua vez estas alterações provocam interferências as mais diversas na vida cotidiana, interferências que se fazem notar através de diferentes comportamentos: falta de motivação, choro constante, apatia, insônia, tristeza, irritabilidade, pessimismo, dificuldade de concentração, pensamentos negativos etc. Sendo um evento comportamental que se faz notar por diferentes comportamentos, este para ser tratado precisa ser analisado como todo evento comportamental, ou seja, em função das relações que estabelece com certas circunstâncias ambientais responsáveis por sua ocorrência e manutenção.

Pode ser que os "comportamentos depressivos" sejam o veículo de comunicação encontrado por uma pessoa para comunicar ao seu sistema familiar que precisa de atenção. Não é incomum encontrar entre os depressivos pessoas que por dificuldades de se expressarem verbalmente, encontram em outros comportamentos, como os "comportamentos depressivos", meios para se comunicarem com o sistema familiar. A questão é que a pessoa e nem o sistema familiar têm consciência disso, o que geralmente contribui para a manutenção dos "comportamentos depressivos". Então, neste caso a depressão estaria relacionada a um déficit no repertório de comportamentos de expressividade emocional, o que priva a pessoa de reforços sociais importantes, gerando assim embotamento emocional.


Logicamente que nem todos os casos de quadros depressivos têm relação com déficits nos repertórios de interação social. Cada caso precisa ser analisado individualmente. Há casos em que episódios depressivos têm relação com eventos estressantes como a morte de um ente querido, a perda de um emprego, o fim de um relacionamento etc. Em todos estes casos os eventos estressantes vão atuar modificando as circunstâncias comuns ao cotidiano, gerando assim perda de reforçameto positivo, e como consequência alguns comportamentos podem entrar em extinção, ocasionando assim sentimentos típicos dos quadros depressivos.

O importante é que a pessoa acometida de um quadro depressivo procure o tratamento adequado, pois desta forma ela conseguirá introduzir em sua vida modificações que certamente contribuirão para amenizar ou extinguir aquilo que lhe aflige. Sobretudo, é importante saber que há tratamento, no entanto, cada caso poderá ser conduzido de uma maneira diferente, pois a história de instalação e manutenção do quadro logicamente terá relação com a própria história de vida, e esta última é única e intransferível.

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