quarta-feira, 25 de julho de 2012

Depressão: que bicho é esse?

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Para você testar o quanto o tema é mais comum do que se imagina, sugiro que faça uma busca no Google usando a palavra "depressão". A busca retornará inúmeras páginas. Desde páginas de laboratórios de fármacos para tratamento da depressão, passando por depoimentos de pessoas que sofreram algum episódio depressivo em suas vidas, até artigos científicos sobre o assunto.

Mesmo entre os artigos científicos não será incomum encontrar diferentes abordagens ao se tratar do tema "depressão". Desde abordagens mais biologizantes, que consideram a depressão um transtorno de humor causado exclusivamente por desequilíbrios bioquímicos, até abordagens mais psicologizantes, que consideram a depressão uma doença relacionada com complexos emocionais mal resolvidos.

Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar. Na determinação de episódios depressivos estão diversas causas. Há causas biológicas, mas estas sozinhas são incapazes de fazerem o episódio se instalar e se manter. Se desequilíbrios bioquimicos podem facilitar a ocorrência de episódios de depressão, estes geralmente só podem ser averiguados quando eventos psicológicos atuam como um gatilho, de modo que se possa hipotetizar sobre sua existência, ou seja, certos eventos psicológicos pelas suas próprias características atuam como fatores que requerem a participação de certas substâncias, substâncias que chamamos neurotransmissores e que agem na transmissão de impulsos nervosos, e na falta destas substâncias o organismo pode não responder adequadamente, produzindo assim estados afetivos comuns aos quadros de depressão.

Trocando em miúdos, a coisa funciona mais ou menos assim. Há certas substâncias que são chamadas neurotransmissores. Estas atuam na transmissão dos impulsos nervosos. Impulsos nervosos são pequenas descargas elétricas que ocorrem no sistema nervoso. O impulso nervoso é a forma através do qual o sistema nervoso se comunica com o restante do corpo. Na ausência de certos neurotransmissores ocorrerão alterações no funcionamento do sistema nervoso, aumentando assim a probabilidade de certas modificações emocionais comumente encontradas nos quadros de depressão.

A medicação é utilizada para reequilibrar estas substâncias chamadas neurotransmissores. No entanto, é bom que se esclareça que jamais a medicação extinguirá os eventos psicológicos responsáveis pelo episódio depressivo. Em outras palavras, a medicação amenizará aquelas alterações emocionais comuns aos quadros depressivos: angústia, ansiedade, tristeza etc. Todavia, a medicação jamais produzirá alterações comportamentais que coloquem um fim nos eventos psicológicos, eventos que podem ter acionado o gatilho bioquímico que produziu o quadro de depressão.


Sendo assim, é recomendável que a pessoa acometida de um quadro depressivo procure tanto acompanhamento psiquiátrico, quanto acompanhamento psicológico. Com o acompanhamento psiquiátrico ela fará uso da medicação correta para lidar com o quadro vivenciado. Já com o acompanhamento psicológico a pessoa terá a oportunidade de efetuar mudanças naqueles comportamentos responsáveis pela manutenção do quadro de depressão, sobretudo, ela aprenderá a identificar as circunstâncias que atuam na determinação destes comportamentos.

Seria muito simplista reduzir as causas da depressão a fatores bioquímicos. Estes são alguns dos fatores, mas não são os únicos. Há muitos eventos comportamentais que podem produzir alterações emocionais como aquelas experimentadas nos quadros de depressão, ou seja, os comportamentos têm consequências, por sua vez estas consequências podem contribuir para a instalação de perturbações emocionais as mais diversas, inclusive as perturbações reunidas sob o rótulo de "depressão".

Desta forma é lícito afirmar que a depressão é um evento comportamental na medida em que está relacionado a modos de agir no mundo, modos que podem produzir alterações emocionais, e por sua vez estas alterações provocam interferências as mais diversas na vida cotidiana, interferências que se fazem notar através de diferentes comportamentos: falta de motivação, choro constante, apatia, insônia, tristeza, irritabilidade, pessimismo, dificuldade de concentração, pensamentos negativos etc. Sendo um evento comportamental que se faz notar por diferentes comportamentos, este para ser tratado precisa ser analisado como todo evento comportamental, ou seja, em função das relações que estabelece com certas circunstâncias ambientais responsáveis por sua ocorrência e manutenção.

Pode ser que os "comportamentos depressivos" sejam o veículo de comunicação encontrado por uma pessoa para comunicar ao seu sistema familiar que precisa de atenção. Não é incomum encontrar entre os depressivos pessoas que por dificuldades de se expressarem verbalmente, encontram em outros comportamentos, como os "comportamentos depressivos", meios para se comunicarem com o sistema familiar. A questão é que a pessoa e nem o sistema familiar têm consciência disso, o que geralmente contribui para a manutenção dos "comportamentos depressivos". Então, neste caso a depressão estaria relacionada a um déficit no repertório de comportamentos de expressividade emocional, o que priva a pessoa de reforços sociais importantes, gerando assim embotamento emocional.


Logicamente que nem todos os casos de quadros depressivos têm relação com déficits nos repertórios de interação social. Cada caso precisa ser analisado individualmente. Há casos em que episódios depressivos têm relação com eventos estressantes como a morte de um ente querido, a perda de um emprego, o fim de um relacionamento etc. Em todos estes casos os eventos estressantes vão atuar modificando as circunstâncias comuns ao cotidiano, gerando assim perda de reforçameto positivo, e como consequência alguns comportamentos podem entrar em extinção, ocasionando assim sentimentos típicos dos quadros depressivos.

O importante é que a pessoa acometida de um quadro depressivo procure o tratamento adequado, pois desta forma ela conseguirá introduzir em sua vida modificações que certamente contribuirão para amenizar ou extinguir aquilo que lhe aflige. Sobretudo, é importante saber que há tratamento, no entanto, cada caso poderá ser conduzido de uma maneira diferente, pois a história de instalação e manutenção do quadro logicamente terá relação com a própria história de vida, e esta última é única e intransferível.

Outros artigos semelhantes a este? Abaixo você encontra outras indicações de leituras do Café com Ciência, não deixe de conferir.

-->

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por participar!