sábado, 23 de junho de 2012

O Papel do Trabalho de Conclusão de Curso na Formação do Aluno de Graduação

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

O trabalho de conclusão de curso (TCC) é algo temido pela grande maioria dos alunos de graduação, seja porque muitos chegam ao final do curso sem conhecer os passos que levam à construção de conhecimento científico, ou porque o recebimento do diploma depende da aprovação de seu trabalho de conclusão de curso, o que transforma este que deveria ser um momento que coloca o aluno em contato com o processo que envolve a produção de conhecimento científico em uma potencial fonte de punição.

Pena que se deixa para o fim da graduação a realização do TCC. Digo isso porque o contato com o processo que envolve a produção de conhecimento científico, algo que o TCC torna possível, deveria ocorrer ao longo de toda a formação. Como não ocorre o TCC passa a ser o vilão da maioria dos alunos que se encontram no último ano de sua graduação. Também conhecido como Monografia, o TCC é uma excelente oportunidade para se criar circunstâncias favorávies para a modelagem de comportamentos científicos, ou melhor dizendo, de comportamentos que possam favorecer a produção de conhecimento científico. Não é esse o papel da universidade, ou seja, além de formar profissionais ela também não deve formar cientistas?

Se fosse para utilizar uma linguagem behaviorista radical, o TCC cria contingências de reforço que possibilitam a consequenciação de comportamentos que correlacionam causas e efeitos por reforços positivos, gerando assim, comportamentos de observação, correlação de variáveis (raciocínio lógico), levantamento de dúvidas etc. Se observarmos bem todos estes são comportamentos que devem fazer parte do repertório de qualquer cientista. É interessante ir à raiz da palavra "monografia". Formada pelas palavras gregas monos (um, unidade) e graphein (escrita), monografia significa um estudo sobre um único assunto.

Se é um estudo sobre um único assunto, isso quer dizer que não se trata de um estudo qualquer. Neste caso, trata-se de um estudo sobre um objeto de estudos previamente delimitado pelo pesquisador, sendo este o primeiro passo de qualquer pesquisa que pretenda ter o caráter de científica. De modo bastante sintético a pesquisa científica percorre os seguintes passos: delimitação do objeto de estudos, levantamento bibliográfico, construção de hipóteses explicativas, escolha de metodologia apropriada, testagem das hipóteses e produção de conclusões. Todos estes passos geralmente são percorridos ao se confeccionar uma monografia, o que evidencia o quão importante é construir uma monografia, pois ela ensina ao aluno como fazer ciência, algo que ele deveria aprender não somente no final da graduação, mas agora não vem ao caso refletir sobre as deficiências do ensino superior brasileiro, que em função de suas limitações não coloca o aluno de curso superior em contato com a lógica que permeia a construção de conhecimento científico.


Percorramos de modo bastante sintético cada um dos passos que fazem parte da empreitada que leva à construção de conhecimento científico, passos acima citados e que geralmente são percorridos ao se produzir uma monografia. Delimitação do objeto de estudos. Diz respeito ao recorte da realidade ou delimitação do universo da pesquisa, ou ainda a escolha do fenômeno ou grupo de fenômenos que serão o alvo da investigação. Esta delimitação se faz importante por vários motivos, mas principalmente porque dela dependerá as relações de causa e efeito que o estudo precisa estabelecer para explicar o comportamento do fenômeno que é o alvo da investigação.

Levantamento bibliográfico. O conhecimento científico é cumulativo, portanto, uma pesquisa pode se beneficiar de outros estudos realizados anteriormente por outros pesquisadores. O levantamento bibliográfico pode ajudar a redimensionar o universo da pesquisa, como também produzir informações que vão alimentar a criação de hipóteses explicativas. Construção de hipóteses explicativas. Hipóteses são explicações temporárias para o comportamento do fenômeno que é alvo da investigação. Podem ou não serem corroboradas, ou seja, podem ou não serem confirmadas ao fim do estudo. Sendo assim, são norteadores importantes para a realização da pesquisa e serão determinantes na hora da escolha da metodologia apropriada para a realização do estudo.


Escolha da metodologia apropriada. A escolha da metodologia implica em pensar a forma de se aproximar do objeto de estudos, em pensar como será a relação entre sujeito e objeto. No caso das ciências humanas e sociais esta definição é extremamente importante, já que a forma do sujeito da pesquisa se relacionar com seu objeto de estudos exige cuidados adicionais, uma vez que este sujeito geralmente faz parte do universo do objeto e seu comportamento pode alterar o fenômeno estudado. Este também é o momento para se pensar nos instrumentos que permitirão o levantamento de informações sobre o objeto de estudos. São estas informações que subsidiarão as conclusões da pesquisa, permitindo a confirmação ou não das hipóteses.

Testagem das hipóteses. A testagem pode variar em função do tipo de estudo. Por exemplo, estudos experimentais exigirão a criação de arranjos experimentais e de condições apropriadas para a construção destes arranjos, e toda testagem dependerá consequentemente da forma como tais arranjos serão arquitetados. Então o tipo de estudo determinará a forma de se testar as hipóteses. Com a testagem das hipóteses a pesquisa produzirá informações que conduzirão às conclusões a respeito das relações de causa e efeito produzidas durante a fase de testagem.

Talves outros passos possam ser adicionados aos que foram acima citados e analisados. Todavia, estes fornecem uma boa representação de como funciona o processo de produção de conhecimento científico, mas que pena que na maior parte das universidades brasileiras o contato com este processo aconteça somente no momento da confecção dos trabalhos de conclusão de curso, e no mínimo isso revela uma deficiência cultural das terras tupiniquins: pouco investimento no fazer científico. Não é por acaso que boa parte de nossos cientistas vão produzir ciência em outros países.

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