terça-feira, 20 de março de 2012

O Amor vicia: amor tem mesmos efeitos das drogas no cérebro

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro

Estudo revela que uma relação amorosa tem o mesmo efeito das drogas no cérebro. Clique aqui para ver. Tanto as drogas quanto o amor são responsáveis pela ativação de um sistema cerebral conhecido como sistema de recompensa. O sistema de recompensa é responsável pela produção das sensações de prazer. Até aqui tudo bem. O problema é querer explicar o comportamento de se “viciar” em alguém somente através de mecanismos cerebrais.



De acordo com os cientistas nos “viciamos” em pessoas da mesma forma que podemos nos viciar em drogas e isso acontece por causa da atuação deste sistema de recompensa. De acordo com eles nosso cérebro elege alguém. A partir desta eleição temos motivação para buscar esse alguém. Quando encontramos vem logo a sensação de prazer, de recompensa. Assim se estabelece as circunstâncias para que seja gerado o vício e todas as sensações normalmente produzidas quando se está viciado em alguma substância entorpecente: felicidade, ansiedade, angústia etc.



Embora este estudo seja importante por mostrar que o amor e as drogas ativam as mesmas regiões do cérebro, seria um grande reducionismo querer explicar o comportamento de se “viciar” em alguém apenas através de mecanismos neurofisiológicos. Tornar-se dependente de alguém tem relação com os reforços obtidos no relacionamento, com a história de reforçamento (história de vida) de quem se torna dependente, com as regras que a pessoa foi construindo ao longo da vida para explicar suas relações com os parceiros etc.

O comportamento de se tornar dependente de alguém precisa ser analisado não à luz de mecanismos neurofisiológicos, mas sim a partir das contingências de reforço responsáveis por sua ocorrência. Precisa ser analisado a partir das relações que estabelece com suas consequências e com os contextos em que ocorre. Estes contextos incluem as descrições que a pessoa faz de seu comportar-se, ou seja, as regras que foi criando ao longo de sua vida para explicar suas relações com o mundo. Incluem as regras que foi aprendendo com o mundo para explicar sua própria existência.


Contudo, essas regras nem sempre são fiéis às contingências, ou seja, nem sempre as descreve como elas são. Isso significa dizer que nem sempre percebemos o mundo como ele é. Daí surgem muitas complicações. Uma pessoa que teve uma história de reforçamento em que houveram muitas punições e não teve oportunidade de desenvolver um repertório extenso de habilidades sociais, pode se agarrar a qualquer relacionamento que aparecer, pois os reforços foram tão escassos em sua vida que qualquer relacionamento que os provê pode se tornar fonte potencial de obtenção de prazer. Como consequência esta pessoa pode se “viciar” neste relacionamento. E pode também criar uma falsa regra: “preciso me agarrar a este relacionamento, pois é tudo que tenho”. A regra cria a impressão de que o relacionamento é a única fonte de reforçamento existente, por isso a necessidade de a ele se agarrar. Trata-se de uma falsa regra, pois o relacionamento não necessariamente precisa ser a única fonte de reforçamento. Então, a pessoa deve ser encorajada a experimentar outras fontes de reforçamento, a se expor a novas contingências para adquirir outros comportamentos capazes de produzirem reforços positivos. Desta forma ela ainda tem a oportunidade de formular novas regras que de fato descrevam as contingências como elas são, o que leva a novas descobertas, de maneira que a pessoa seja capaz de dizer para si mesma: “meu relacionamento não é minha única fonte de felicidade”. Que fique claro que este caso se refere a uma situação hipotética, e podem existir inúmeras outras situações que envovem o tornar-se dependente de alguém.

É quando nos expomos a novas contingências que temos a oportunidade de adquirir novos comportamentos e de reformular antigas regras e criar outras novas, alterando assim a nossa percepção do mundo como dizem os mentalistas. É assim que vamos ampliando a nossa visão de mundo. Logicamente que este é um processo que pode envolver algum sofrimento, pois quando nos expomos a novas contingências antigos comportamentos certamente deixarão de ser reforçados, com isso começam a entrar em extinção, e com a extinção surgem sentimentos como tristeza, angústia, mal-estar etc. Por outro lado novos comportamentos vão sendo modelados, o que amplia a possibilidade de obtenção de reforços positivos.

Portanto, o comportamento de se tornar dependente, seja de uma substância entorpecente, seja de alguém, precisa ser compreendido a partir da história de vida/história de reforçamento do organismo. É na história que vamos encontrar os sentidos do comportar-se, ou seja, é na história que vamos encontrar suas funções, pois através dela serão evidenciadas as relações estabelecidas com o meio, relações responsáveis pela forma e intencionalidade assumidas pelo comportamento.

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